Apesar de ocorrer na natureza, o termo clonagem humana não é utilizado para se referir à geração de gêmeos univitelinos, que apresentam a mesma carga genética. Da mesma forma, clonagem humana não é utilizada para designar a cultura de células e tecidos humanos em laboratório.
Durante todo o século XX, a possibilidade da clonagem humana foi objeto de investigação científica, mas apenas a partir da década de 1960 os estudos se tornaram mais efetivos. Em 1966, o Prêmio Nobel Joshua Lederberg defendeu a clonagem e a engenharia genética num artigo. Foi o início da polêmica. Imediatamente, surgiram argumentos sobre os aspectos éticos do procedimento, estudos sobre os riscos da clonagem e houve até quem afirmasse que a engenharia genética desumaniza o homem.
A ovelha Dolly
Entre 1995 e 1996, cientistas escoceses do Instituto Roslin conseguiram clonar o primeiro mamífero, a partir de células adultas. Foi utilizado uma célula mamária de uma ovelha da raça Finn Dorset (cabeça branca), cujo núcleo foi inserido num oócito com o núcleo removido de um animal da raça Scottish Blackface (cabeça preta).
Outra ovelha, também cabeça preta, gerou Dolly. O estudo foi publicado no ano seguinte.
As raças e fenótipos distintos foram utilizados para que se pudesse avaliar se o procedimento e a gestação poderiam alterar as características do filhote, que nasceu branco, semelhante à doadora da célula mamária. Apesar do sucesso, em 2002, Dolly desenvolveu uma forma rara de artrite, especialmente incomum em animais jovens, indicando um possível envelhecimento celular acelerado.
No ano seguinte, a ovelha foi sacrificada, em função de infecção pulmonar incurável. Ainda se discute se a ovelha tinha sua idade cronológica ou idade semelhante à da doadora da célula mamária, o que explicaria os problemas de saúde diagnosticados.
O procedimento para a clonagem humana seria idêntico ao adotado na geração de Dolly. Mais recentemente, com o desenvolvimento das pesquisas sobre as células-tronco, a discussão foi reacesa. Teoricamente, uma célula-tronco pode ser induzida a se transformar em um blastocisto e, posteriormente, num embrião que, introduzido numa barriga de aluguel, poderia gerar um ser idêntico ao doador da célula-tronco.
A legislação
A Organização das Nações Unidas começou a elaborar uma convenção internacional contra a clonagem humana reprodutiva em 2001. A discussão não chegou a um consenso e, em 2005, a ONU publicou uma declaração em que orientava os países a proibir a clonagem para quaisquer fins.
Na Austrália, a clonagem foi proibida, mas, em 2006, foi sancionada legislação que permite a técnica para fins terapêuticos.
A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia proíbe formalmente a clonagem reprodutiva e os países membros da Comunidade são obrigados a obedecer aos parâmetros estabelecidos. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina proíbe inclusive a clonagem terapêutica, mas só foi ratificada por Portugal, Espanha e Grécia.
EUA e Brasil permitem as pesquisas de clonagem terapêutica; apesar de fortes lobbies organizados pelas igrejas, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em 2011, que as pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas, para fins de regeneração genética de órgãos e tecidos, é legal.
Clonagem humana e religião
A maioria das religiões considera a prática criminosa, sob o argumento de que somente a Deus cabe a criação de seres vivos e o homem não pode querer igualar-se à divindade. Católicos, protestantes e muçulmanos sempre se posicionaram contrários às pesquisas sobre clonagem humana, mesmo que para fins terapêuticos, e não para a geração de novos seres.
O papa Bento XVI condenou recentemente o procedimento, afirmando que ele representa uma “grave ofensa à dignidade da pessoa, bem como à igualdade de todos os povos”. Outros grupos religiosos advertem que a clonagem humana podem abalar o ideal de família e o questionamento da identidade do indivíduo clonado.
Por fim, muitos argumentam para os riscos de as experiências se associarem à eugenia, prática pela qual seria feita a melhoria genética da humanidade, provocando a segregação de pessoas doentes e portadoras de deficiências. Este argumento não vem apenas dos crentes, mas é uma preocupação de muitos cientistas que debatem o tema.