Chuvas de sapos existem?

Mesmo sendo um fenômeno muito raro, às vezes acontece de cair uma chuva de sapos, rãs, peixes e outros pequenos animais. Vários lugares do mundo registraram tempestades deste gênero, sempre fortes, em vários momentos da história.

Como esta chuva está relacionado a um fato bíblico, o surgimento excessivo de rãs – uma das dez pragas enviadas pelo deus hebreu para obrigar o faraó egípcio e liberar o “povo de Deus” –, muitos povos crédulos associaram as chuvas de sapos, como são mais conhecidas, a prenúncios de pragas e tragédias. Mas o motivo destas chuvas é bastante simples.

Durante vendavais, tornados e tempestades, o ar quente junto à superfície da Terra desloca-se rapidamente, formando centros de baixa pressão, rapidamente ocupados por massas de ar frio. O ar, assim, fica se movendo em círculos, em velocidades que podem superar os 200 quilômetros horários e, quando este movimento é muito violento, arrasta o que estiver à sua frente: folhas, galhos e animais de pequeno porte.

Quem descobriu o motivo do fenômeno foi o físico francês André Ampère. No início do século XIX, o cientista, na contramão da maioria de seus pares, que simplesmente negavam a chuva de sapos, demonstrou que os fortes ventos eram responsáveis por sugar e derrubar animais desprevenidos.

Por que só sapos e rãs?

Aves e mamíferos, no entanto, preveem a chegada de fenômenos climáticos instintivamente: eles observam mudanças na direção do vento e até vibrações do solo. Após o maremoto que gerou a tsunami responsável por catástrofes em boa parte do oceano Índico, sul da Ásia e Oceania em 2004 (com mais de 285 mil mortes), quase todos os animais de diversas regiões procuraram abrigo em regiões altas.

Este é o motivo por que não há chuvas de coelhos ou galinhas. Eles se abrigam rapidamente aos primeiros sinais de tempestades. Rãs e sapos, no entanto, assim como peixes que nadam próximo à tona d’água, como carpas e trutas, além de salmões e arenques na época da reprodução, estão no seu ambiente natural, junto a rios e lagos.

Tudo o que é arrastado para cima pelas tempestades é destruído pelos fortes ventos. Ao fim de algumas horas – ou dias, em certos casos –, o vento cede e o que foi suspenso pela sua força cai violentamente no solo.

Os animais, no entanto, já estão mortos a esta altura: os ventos cíclicos de um tornado podem formar um cone de até 11 quilômetros de altura: além dos choques constantes, a temperatura nesta altitude determina a morte de qualquer organismo. Alguns destes animais chegam ao solo encerrados em blocos de gelo.

Aves migratórias também são afetadas, mas não por chuvas. Fogos de artifício e a iluminação de grandes cidades provocam pânico para várias espécies. No réveillon de 2011, três mil tordos-sargentos caíram no Arkansas (EUA), apavorados pelas luzes e ruídos.

Chuvas de peixes

As trombas d’água – funis formados pelas correntes marinhas, associados a nuvens cumuliformes (nuvens verticais isoladas, que dão origem a grandes tempestades no oceano e a fortes vendavais na costa) – sugam a água do mar, formando uma coluna de água.
Os peixes e outros animais marinhos que estejam nadando na região são puxados com a água e podem ser arrastados pelos ventos para as praias. Já choveram caranguejos em Nova Gales do Sul (Austrália, 1978) e, em 2002, milhares de peixes caíram na Macedônia e na região montanhosa da Grécia. Em 2010, choveram peixes, muitos deles vivos, em Lajamanu, uma aldeia do norte da Austrália.

Curiosidade inglesa

Durante a Idade Moderna, surgiu um dito popular para expressar a forte intensidade de uma chuva: “It’s raining cats and dogs” (está chovendo gatos e cães). A população tentava se esconder da chuva onde pudesse, deixando seus animais de estimação à própria sorte, e muitos morriam.

Como não havia esgoto nem sistema de drenagem, muitos animais caíam dos telhados, onde se escondiam para se aquecer, e as torrentes pluviais também arrastavam corpos de totós e bichanos para as cidades e aldeias, sempre fundadas em regiões de baixa altitude, próximas a rios, para prover o abastecimento de água. E os ingleses achavam que havia chovido cães e gatos.

A expressão foi aportuguesada: raining cats transformou-se em canivetes.

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