O casal se conhece, troca olhares, namora, pensa no passo seguinte e surge uma grande festa que mobiliza duas famílias (no mínimo): o casamento. As cerimônias variam de acordo com o local e a época, sempre refletindo os hábitos e tradições da comunidade em que são realizadas. O que permanece invariável é o significado: dois seres independentes se unem e iniciam um novo lar.
Nos dias de hoje, é impensável uma cerimônia religiosa de casamento sem o cortejo da noiva – o centro das atenções – pela nave a igreja. No entanto, a origem desta tradição não é nem um pouco lisonjeira para as mulheres. Na Idade Média europeia, o pai – “dono” da jovem – levava a filha para entregá-la ao noivo – ou futuro “dono”. Era uma transferência de propriedade.
Para formalizar o “contrato”, a entrega era feita junto ao altar principal da igreja local, onde o padre unia o novo casal no sacramento do matrimônio (os sacramentos são rituais que, de acordo com os dogmas religiosos, aproximam as criaturas do Criador). Apesar da inspiração machista, os primeiros documentos oficiais de casamento surgiram justamente nas igrejas (assim como os “ancestrais” das certidões de nascimento: os registros de batismo).
Mesmo quando os noivos não têm uma religião definida, casar-se em um templo religiosos implica a aceitação dos dogmas e crenças, bem como a obrigação de criar os filhos de acordo com as tradições. Antes de ser um acontecimento social, o casamento é um ato sagrado.
A aliança
Usada no dedo anular da mão esquerda, é o símbolo da união, é um costume milenar, provavelmente criado na Índia. Os antigos romanos acreditavam que havia uma veia (“vena amoris”) que unia este dedo diretamente ao coração.
Inicialmente, a aliança era uma espécie de “certificado de propriedade”. A mulher portando uma aliança não estava disponível para outros pretendentes. No século IX, a Igreja Católica adotou oficialmente a troca de alianças durante a cerimônia de casamento, em uma alusão à nova aliança (entre Jesus e a humanidade).
Os anéis de noivado, que representam o desejo de firmar um compromisso pelo restante da vida, surgiram mais tarde: em 1477, o arquiduque Maximiliano da Áustria pediu a mão de Maria, duquesa de Borgonha, com um anel cravado de diamantes que formavam a letra “M”. é o primeiro registro histórico, apesar de haver referências do uso de anéis de compromisso ainda no Egito antigo. O costume se popularizou entre a nobreza, mas demorou a chegar às classes populares.
Entre os escoceses, existe a superstição segundo a qual uma mulher que perde a sua aliança de casamento está condenada a perder o marido.
O bolo
Comum entre povos antigos, como os sumérios e egípcios, os primeiros bolos de casamento eram cobertos com tâmaras e mel, que era considerado afrodisíaco. Os romanos faziam um misto de bolo e pão com mel, especiarias, frutas secas e nozes. Durante a festa, a iguaria era despedaçada sobre a cabeça dos noivos: os farelos garantiam prosperidade e fertilidade.
O significado da chuva de arroz (ou de pétalas de flores, para prevenir contra escorregões e quedas) ao fim da cerimônia de casamento é um remanescente do bolo romano esfarelado – ou, em outras versões, é uma tradição chinesa milenar, que simboliza a vida longa e farta. Depois de um longo “dia da noiva”, com muitos cuidados com cabelo, maquiagem e vestido, dificilmente uma mulher toparia ser “abençoada” com farelos. A revoada de pombos brancos também significa boa sorte.
O famoso bolo de noiva, em camadas, surgiu em 1533, no casamento de Catarina de Médici e Henrique II, que se tornaria rei da França. A tradição recomenda que o novo casal corte a primeira fatia unindo as mãos. Provavelmente, isto surgiu na Inglaterra com as primeiras coberturas de marzipã: a decoração do bolo ficava tão dura que era necessário certo auxílio para finalmente cortar o bolo.
O buquê
Ele surgiu na Grécia antiga. A noiva percorria a pé o trajeto entre a sua casa e o templo. No caminho, vizinhos e amigos ofereciam ramos de flores, alho e ervas, para espantar o mau olhado e atrair bons fluidos; assim, ao chegar para a cerimônia, ela carregava um buquê completo, que era depositado junto à estátua de Afrodite, para garantir sorte e felicidade.
O costume permaneceu durante toda a Idade Média, venceu a Idade Moderna e atingiu o auge na Inglaterra vitoriana (século XIX). Na austera corte da rainha Vitória, era considerado impróprio manifestar os sentimentos. Assim, surgiu a “linguagem das flores”: neste “idioma” não falado, as rosas vermelhas simbolizam o amor.
Na Polônia, os buquês até hoje são polvilhados com açúcar, para que o casal tenha vida doce. Em diversos locais da Europa, a noiva leva dois ramalhetes: um é preservado em redomas de vidro como símbolo do casamento, enquanto o segundo é lançado durante a festa para as mulheres solteiras, como forma de atrair um pretendente. Os dois buquês permanecem atados durante a cerimônia, com um ramo de arruda entre eles, para neutralizar a inveja.
As flores em geral significam pureza, amor e fraternidade. O formato de uma flor lembra um receptáculo, um vaso; no casamento, elas evocam o órgão sexual feminino, que recolherá o material fecundante do jovem marido. Portanto, as flores apontam para a descendência do casal.
O carro dos noivos
As latinhas (originalmente, bastões de metal) e a decoração colorida do carro que leva os noivos da igreja para a festa (e dali para a lua de mel) também dizem respeito aos maus espíritos invejosos que tentam atrapalhar o casamento. O barulho e as cores os assustam e garantem tranquilidade para o casal iniciar a sua nova vida.
De véu e grinalda
Pela mesma razão, a noiva chega à igreja com um véu sobre o rosto. É uma forma de os maus espíritos não conseguirem reconhecê-la. Na Roma antiga, as noivas eram acompanhadas por um séquito de amigas vestidas de modo semelhante e portando buquês, para impedir a ação dos inimigos invisíveis e a tranquilidade da cerimônia. Este grupo deu origem às damas de honra.
Já o padrinho (best man, ou “melhor homem”, em inglês) tinha a função de proteger o noivo durante o seu trajeto até a igreja; em tempos de muitas inimizades, esta não era uma função apenas simbólica. Em alguns locais do Mediterrâneo, caso o noivo morresse antes da cerimônia, o padrinho tinha que assumir o seu lugar (isto ainda acontece em alguns países muçulmanos).
O véu, aliás, em muitos períodos históricos, não diferenciava a noiva das outras mulheres convidadas para a cerimônia. Por isto, ela passou a ser “coroada” com uma grinalda, tornando-se semelhante a uma rainha e destacando-se das demais.
A origem da palavra “noiva” é “nupta”, que significa “coberta” em latim. A tradição patriarcal afirma que a mulher só deve se descobrir para seu marido. Falando em etimologia, “casamento” deriva de “casa” e “matrimônio”, de “mater” (mãe).
Além do véu, da grinalda e do buquê, as noivas inglesas e americanas precisam usar algo azul, algo emprestado, algo novo e algo antigo. O antigo faz referência à família da noiva (antes do casamento), que deve continuar sendo reverenciada; o novo, à vida nova; o emprestado lembra que a jovem pode sempre ser amparada pelos parentes e amigos: o azul significa o amor, a pureza e a fidelidade. Na iconografia católica, a Virgem Maria é sempre representada com um manto azul.
O vestido
A tradição manda que as noivas se vistam de branco para a cerimônia de casamento. Outras cores já entraram e saíram de moda, mas o branco permanece firme e forte. Mas nem sempre foi assim: até a metade do século XIX, as famílias nobres vestiam suas noivas com as cores do brasão (a rainha Mary Stuart, da Escócia, usou branco, mas em alusão ao brasão da família Guise).
Na França, a tradição exigia que as noivas vestissem azul, referência a Nossa Senhora. A já citada Catarina de Médici ignorou solenemente o costume e entrou na igreja vestindo branco – e com um generoso decote. Michelangelo Buanorotti atribuiu o branco à pureza da jovem, que tinha apenas 14 anos.
O branco entrou definitivamente para a tradição com o casamento da rainha Vitória, que reinava sobre um “império onde o Sol nunca se põe” (alusão aos domínios ingleses, que se estendiam do Canadá até a Austrália).
Porém, ainda não é uma unanimidade. Na Índia, os vestidos são confeccionados com as mais diversas cores, menos branco, que simboliza luto no país. As noivas chinesas se casam de vermelho, símbolo da fertilidade. Já houve povos que casaram suas noivas com vestidos pretos.
Uma superstição portuguesa que se espalhou pelo Brasil afirma que a noiva não deve confeccionar o próprio vestido, nem ao menos fazer pequenos ajustes. Recomenda-se que as amigas solteiras escrevam seus nomes na barra do vestido, para que sejam as próximas a subir ao altar.
Ao entrar na casa nova
A tradição exige que o noivo tome a noiva no colo para atravessar a soleira da porta. Entre os espanhóis, havia a crença de que maus espíritos espreitavam o casal para trazer-lhes infelicidade. Para evitar isto, é preciso que o noivo carregue sua nova esposa.
Entre os romanos, antes de entrar em casa, os noivos pediam a proteção do deus Jano, o porteiro dos céus. Junto à porta de entrada, ficam esculturas dos lares, ou ancestrais da nova família. Para os noivos que estão preocupados com o peso, vale uma compensação: na ilha Bled (Eslovênia), a única igreja possui uma torre com 99 degraus. Pela tradição, é preciso levar a noiva até o topo, no dia anterior ao casamento, antes que os sinos toquem as primeiras baladas matinais.