A preocupação com a saúde é um tema cada vez mais frequente no dia a dia dos brasileiros. A necessidade de ingerir vegetais diariamente, eliminar as gorduras das refeições (com exceção dos ácidos insaturados), fazer pequenos lanches entre as refeições principais, substituir os alimentos industrializados por artigos naturais, evitar os queijos gordurosos (amarelos) estão entre as providências sugeridas por dez entre dez nutricionistas. Mas alimentar-se não é apenas nutrir o organismo: é também alimentar o espírito. Este é um dos bons motivos para comer pizza.
Quase sempre, o problema não está nos pratos que frequentam a nossa mesa, mas na quantidade excessiva com que os alimentos são ingeridos. Outro mito frequente é o badalado uso do azeite, rico em gorduras monoinsaturadas. O prazer de comer uma pizza com a família ou os amigos, desde que com moderação, não traz inconvenientes para a saúde, a menos que haja contraindicações médicas.
A “moderação”, no caso, varia de indivíduo para indivíduo. Vale o mesmo para os intervalos entre uma “pizzada” e outra. Na dúvida, um nutricionista ou endocrinologista pode orientar sobre a dieta correta e as “escapadas” possíveis. Pessoas sedentárias, com sobrepeso ou obesas, com histórico familiar de doenças cardiovasculares, entre outros fatores, precisarão deixar o prazer de saborear um pedaço de pizza para ocasiões especiais. Mas quase nunca é preciso renunciar a esta satisfação gastronômica.
Importante: muitas mulheres confundem saúde com “estar com 20 kg abaixo da altura” (para uma mulher de 1,70 m, o peso ideal é de 50 kg), enquanto muitos homens acreditam que um abdômen trincado equivale a ter uma saúde de touro.
Questões estéticas à parte, o IMC (Índice de Massa Corporal) é apenas um dos critérios para que se defina o peso ideal (outros itens a ser avaliados são o cálculo de gordura total e intersticial, a relação entre a circunferência da cintura abdominal e do quadril, etc.).
Reeducação alimentar
A “redonda” costuma estar no topo das proibições, quando se fala em reeducação alimentar. A chave para entender isto está na própria expressão: quem precisa de reeducação alimentar é mal educado à mesa: come em excesso, repete os mesmos pratos quase diariamente (fato que reduz a absorção de muitos nutrientes responsáveis pelo bom desenvolvimento das funções orgânicas), torce o nariz para alimentos coloridos, como frutas, verduras, grãos, legumes, etc.
Outro ponto que prejudica bastante a alimentação correta é a má escolha dos locais para tomar as refeições: um almoço ou jantar não pode ser feito em locais de grande circulação de pessoas ou em ambientes mal higienizados. O tempo também é importante: a mastigação é fundamental para que os alimentos sejam bem aproveitados e cumpram as suas tarefas.
Voltando à pizza
Não se sabe quem inventou a pizza. Há dois mil e quinhentos anos, os fenícios já consumiam uma espécie de pão árabe (um disco achatado feito com farinha de trigo, água, sal e especiarias) recoberto por com fatias de carne e cebolas. A moda foi adotada pelos turcos, mas estes preferiam a cobertura de carne de carneiro e iogurte fresco.
Durante as Cruzadas – expedições católicas para tentar obter o domínio da chamada Terra Santa, que ocupa trechos dos atuais Estados da Palestina, Israel, Jordânia e Síria, que ocorreram entre os séculos XI e XIII –, um dos portos que mais embarcavam soldados para lutar contra os muçulmanos era o de Nápoles, no sul da Itália.
Provavelmente, a pizza foi introduzida na Europa pelos guerreiros cruzados de retorno para casa. As coberturas se diversificaram e o prato foi se tornando cada vez mais popular. A grande inovação, no entanto, ocorreu depois do descobrimento da América, quando navegantes (especialmente portugueses e espanhóis) introduziram diversas espécies tropicais no temperado (ou frio) clima europeu.
Muitos animais, aves e plantas nem sequer resistiam à viagem. Uma das poucas que aportou e conseguiu aclimatar-se foi o tomate, inicialmente utilizado apenas para decoração: suas frutas vermelhas – a cor do pecado – indicavam que eram venenosas.
Um italiano mais corajoso, no entanto, decidiu experimentar, não sofreu nenhum dano e o tomate deixou as salas e varandas, indo parar nas cozinhas. A fruta, porém, é altamente perecível e, para preservá-la, alguém descobriu o molho (ele não é mais durável, mas a adição de especiarias mascara o gosto de estragado por mais tempo).
Tomate, queijo e o disco de farinha de trigo são os ingredientes básicos das primeiras pizzas europeias – as tradicionais napolitanas. O tomate também revolucionou outro prato típico da culinária italiana: o macarrão (trazido da China), com molho de tomate e salpicado com queijo é um dos ícones da gastronomia internacional.
Voltando aos motivos para comer pizza
Sempre lembrando que é preciso moderação e, principalmente, que não se deve render a modismos (muitas “dietas da moda” são responsáveis por vários casos de anorexia e bulimia), o verso de Roberto e Erasmo Carlos: “tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda” não é verdadeiro – ao menos não totalmente. É possível comer de tudo – ou quase tudo – sem comprometer a saúde e a forma física.
Neste “tudo”, incluem-se as pizzas. Quem está de dieta pode optar por coberturas light, como atum, ricota e outros queijos brancos, escarola, tomate seco, rúcula, funghi, abobrinha, sobre massas feitas com iogurte desnatado, margarina e farinha integral. Quem está com o peso normal e a saúde sob controle pode variar as coberturas. Isto faz bem inclusive para o paladar aprender a gostar de outros sabores.
A pizza pode ajudar o organismo na absorção do licopeno, substância antioxidante que combate os radicais livres, responsáveis por várias doenças e também pelo envelhecimento precoce. Uma das fontes de licopeno é o tomate e estudos comprovam: sua ingestão juntamente com pequena quantidade de gordura (como do queijo), facilita o trabalho do intestino.
Alguns estudos indicam que o carvacrol, substância antibacteriana usada há séculos pela humanidade, pode induzir células cancerígenas (ao menos na próstata) ao suicídio. Onde encontrar o carvacrol? No orégano, presente em várias receitas de pizza.
Alguns modismos sobre alimentação: o óleo de coco vem sendo anunciado como “queimador” de gorduras e “eliminador” da prisão de ventre é, ele mesmo, uma gordura: se ele entra na dieta, outro ácido graxo precisa sair. Combinados, eles provocam um desastre.
A forma dieta do Mediterrâneo – deliciosa, de qualquer forma – ainda tem restrições entre os especialistas. Não se pode simplesmente importar um cardápio: é preciso adaptá-lo ao clima e ao ritmo de vida da população. O vinho tinto, por exemplo, rico em resveratrol (polifenol que aumenta os níveis do bom colesterol, reduz a formação de trombos no sangue e possui efeito anti-inflamatório) pode não provocar os mesmos efeitos entre os povos de clima tropical. Em outras palavras, nem tudo que é bom para a Europa é bom para o Brasil.
O bom e velho azeite, ao lado de óleos como os de algodão e canola, começa a se degradar assim que é submetido a temperaturas acima de 180°C. Portanto, nas receitas que pedem “fogo alto”, suas boas propriedades são praticamente anuladas.
Tudo na vida é questão de equilíbrio. Um sábado à noite com pizza e amigos pode ser compensado com um belo almoço de domingo recheado de saladas, frutas e sucos. Para aumentar a diversão, toda a família pode ser convocada para o preparo da refeição, inclusive crianças pequenas. O “caminho do meio”, aconselhado por Buda, é o segredo de uma “vida longa e próspera”.