A barriga negativa é a nova moda das academias. Bastou alguns famosos postarem seus abdomens sequinhos nas redes sociais e muita gente começou a correr atrás desta meta a qualquer custo. A barriga tanquinho (que forma gominhos no abdômen) já era perseguida pelos homens e body builders de ambos os sexos, mas, quando algumas supermodels começaram a exibir o corpo absolutamente esbelto (em fotos e passarelas), muitas mulheres passaram o perseguir um objetivo que, muitas vezes, é irreal e pode colocar em risco a saúde.
Estudos recentes demonstram que há uma relação inversa entre condição física e quantidade de gordura abdominal (subcutânea) e visceral (que se aloja em órgãos como o fígado e o pâncreas). Em outras palavras, quanto melhor a condição física, menos volumosos se tornam os depósitos de gordura. A atividade física bem orientada garante a redução dos pneus e culotes, além de aumentar a massa magra, e é excelente para, em um segundo momento, definir o famoso tanquinho.
Com relação à barriga negativa (apenas uma barriga chapada, bastante comum entre pessoas muito magras, que apresentam uma concavidade na parte inferior do ventre e deixam as costelas mais aparentes), porém, o mesmo programa de exercícios (que reduziu a gordura abdominal em 3% a 7%) é insuficiente.
Especialistas afirmam que “negativar” a barriga depende de uma constituição longilínea (relacionada inclusive à estrutura óssea), músculos abdominais pouco desenvolvidos, ossos do quadril mais proeminentes e magreza desde a infância, dois fatores determinados por aspectos genéticos.
Quem tem sobrepeso ou é obeso simplesmente não consegue atingir este objetivo apenas com reeducação alimentar e exercícios físicos. Mesmo pessoas magras, mas sem estas características – uma pessoa magra e baixa, ou magra e com ossos pélvicos pouco desenvolvidos –, por exemplo, não vai conseguir obter a aparência “da moda”.
É possível obter um corpo bem torneado e atraente, mas não semelhante ao de uma übermodel. Não por acaso, modelos são selecionadas, por volta dos 13 anos, entre garotas magricelas e altas (muitas delas sofreram bullying na escola justamente por causa destas características).
Correr atrás do corpo perfeito pode significar muita fome e suor na malhação. Mas, pior que isto, pode sofrer com redução da resistência imunológica, alterações do ciclo hormonal e interrupção do ciclo menstrual – e até coisas piores.
Os problemas
Ser vaidosa, malhar, cuidar da alimentação e até submeter-se a algumas cirurgias plásticas, como implantes de silicones nos seios e lipoaspirações são válidas e saudáveis – até certo ponto. Algumas mulheres ultrapassam os limites da segurança e arriscam-se desnecessariamente em procedimentos estéticos e cirúrgicos, em busca do corpo perfeito.
Dietas muito rígidas podem provocar anemias logo no início da adoção do novo cardápio, por falta de ferro no organismo. Além de não obter o aporte nutricional necessário para as necessidades orgânicas, a “fome voluntária” também aumenta a irritabilidade e o estresse.
Está cada vez mais comum a retirada das costelas flutuantes – os dois pares inferiores da caixa torácica, os únicos que não se unem ao osso do peito. A função das costelas é proteger órgãos como pulmões, coração, fígado e baço.
Outra desvantagem da cirurgia de retirada é a extensa cicatriz deixada na região anterior do tórax, que demanda outras cirurgias plásticas. A técnica é utilizada há muito tempo, mas por motivos de reparação de danos. Um paciente pode, por exemplo, ter retirado parte destas costelas para reconstrução de orelhas ou de narizes. Em outros casos, quando há grande perda de massa óssea (provocada por acidentes de automóvel ou queimaduras), a cirurgia também é válida. Mas, como diz a Lei de Murphy, “se uma coisa pode ser feita, ela vai ser feita”.
Outros riscos são lesões na pleura (a membrana que reveste os pulmões), perfuração de órgãos e outras importantes estruturas do corpo e danos aos nervos da região. O cirurgião que executa o procedimento deve ter experiência em cirurgia do tórax.
Para alguns médicos, a barriga negativa só é obtida quando o índice de massa corporal (IMC) atinge níveis muito baixos e quase sempre indica a presença de uma anorexia nervosa, disfunção alimentar caracterizada por uma rígida dieta alimentar (o cardápio de uma refeição pode se reduzir a uma folha de alface).
O IMC, calculado com base na altura e peso do indivíduo, quando fica entre 17 e 18,5, indica que o analisado está “abaixo do peso”. Isto não significa necessariamente um quadro de desnutrição. Algumas pessoas podem apresentar este quadro apenas em função da compleição física. Estas pessoas inclusive apresentam dificuldade para ganhar peso.
Nove em dez casos ocorrem entre as mulheres e surgem principalmente na adolescência, determinados por problemas de autoimagem, dificuldades de aceitação pelo grupo, conflitos com a própria sexualidade, etc. A solução é tratar o distúrbio e não partir para uma via-crúcis de tratamentos cosméticos e estéticos, que podem chegar inclusive à automutilação.
Para a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, ter um abdômen tão magro, a ponto de os ossos do quadril serem mais proeminentes do que a barriga, não é saudável e pode ser o ponto de partida para o surgimento de novas doenças.
A perda desnecessária de peso significa outros riscos. Os magros por natureza alimentam-se normalmente, ingerindo porções adequadas de todos os nutrientes necessários para a saúde (e, por inveja, muitas vezes são chamados de “magros por ruindade”). Mulheres com estrutura mais “larga”, no entanto, não podem entregar-se a dietas absurdas, com privação de refeições, tentando adquirir a silhueta de uma Gisele Bündchen: além de não chegar à meta, estão se arriscando a uma série de doenças.