Apenas quando os microrganismos foram descobertos, na segunda metade do século XIX, o homem conseguiu entender a relação entre vírus, bactérias e fungos e as doenças. A partir daí, muitas descobertas, algumas delas acidentais, determinaram fortes avanços da medicina.
Até então, o conhecimento médico era muito restrito. Conheciam-se algumas substâncias para aliviar determinados sintomas, mas ainda era praticada a teoria humoral, concebida no século IV a.C. pelos gregos, que atribuía as desordens orgânicas a desequilíbrios de quatro humores: sangue, fleuma, bílis negra e bílis amarela, produzidos respectivamente pelo coração, pulmões, fígado e baço. Problemas hematológicos, por exemplo, eram tratados com sangrias, às vezes com o uso de sanguessugas.
As descobertas tecnológicas provocaram imensos avanços da medicina; na verdade, uma verdadeira revolução. Os antibióticos permitiram o combate a infecções, as vacinas impedem muitas doenças e já conseguiram eliminar doenças, como a varíola: o último caso foi registrado em 1997. Hoje, o vírus só existe em laboratórios.
Nos últimos anos, no entanto, a medicina tem apresentado verdadeiros prodígios. Vamos conhecer alguns.
A erradicação da pólio
Assim como a varíola, a poliomielite é transmitida por contato entre humanos, sem necessidade de um hospedeiro animal. Nos anos 1980, os pesquisadores tinham certeza de neutralizar a doença, já que havia duas vacinas, a Salk e a Sabin, que preveniam contra a doença. Mas não seria assim tão fácil.
Ao contrário da varíola, que provoca erupções avermelhadas no corpo, a pólio quase sempre é inaparente. Apenas um em cada 200 portadores do vírus desenvolve a paralisia dos membros, mas todos eliminam vírus pelas fezes facilitando o contágio, especialmente em regiões com saneamento precário.
Na América e na Europa, o controle foi relativamente simples. No Brasil, o último caso foi relatado em 1990. No entanto, África e Ásia se tornaram bastante complexas. A Índia, especialmente, é um caso crítico. Em 1988, foram registrados 200 mil casos. Além das péssimas condições de infraestrutura em muitos locais do país, um motivo contribuiu para esta verdadeira epidemia: Mahatma Gandhi, um dos maiores líderes pacifistas que o mundo conheceu, posicionou-se contra as vacinas, por conterem partes de animais.
Muitos grupos indianos são vegetarianos e abominam o consumo de qualquer produto animal. Por isto, várias famílias optavam por tratamentos tradicionais – e inócuos – como mergulhar as crianças em rios considerados sagrados. As autoridades decidiram por um ataque em massa: contrataram milhares de agentes de saúde, “armados” com vacinas orais (a Sabin) e mapas, para percorrer todo o país.
Os resultados não demoraram a surgir. Em 2011, foi relatado o último caso de pólio. De acordo com as normas da Organização Mundial da Saúde, se até o fim de 2014 não ocorrerem novas infecções, a poliomielite será considerada extinta na Índia.
Novos tratamentos para o câncer
Até os anos 1970, câncer equivalia a uma sentença de morte. Muitas pessoas evitam até dizer a palavra, referindo-se à doença apenas como CA, sempre em voz baixa. A maioria dos diagnósticos era feita em cirurgias exploratórias, que consistiam em abrir o paciente, constatar a doença e suas metástases e partir para tratamentos paliativos, apenas para aliviar o sofrimento.
Hoje, no entanto, quando diagnosticado precocemente, permite diversas intervenções clínicas e cirúrgicas, que impedem o avanço ou eliminam o câncer, que na verdade é o nome genérico para várias anomalias na multiplicação celular, como sarcomas, melanomas, carcinomas e leucemias, que são combatidos com cirurgias, imunoterapia, quimioterapia e radioterapia.
Ainda não são conhecidas todas as causas do câncer, mas sabe-se que existem predisposições genéticas, ou seja, o paciente que desenvolve a doença tem em seu DNA genes que induzem à multiplicação indiscriminada das células de determinado tecido ou órgão.
A terapia genética basicamente consiste em introduzir um gene que induz à morte as células anômalas, sem provocar danos aos tecidos adjacentes, como ocorre nos tratamentos convencionais. Alguns vírus geneticamente modificados também atuam no combate às células tumorais.
Num futuro próximo, os bebês sairão das maternidades com o seu código genético totalmente mapeado, com indicações de doenças que poderão ser desenvolvidas, permitindo o tratamento preventivo e mesmo a neutralização de genes que predispõem a determinadas anomalias orgânicas. O combate ao papilomavírus (HPV), responsável por tumores no útero, e ao tabagismo, causa de tumores na boca, laringe, faringe, pulmões e estômago, são outros instrumentos para reduzir a incidência do câncer.
A “peste gay”
No final da década de 1970, a mídia começou a divulgar notícias sobre uma estranha doença que aparentemente acometia os homossexuais. Na época, nada se sabia sobre as causas ou formas de contágio. Na verdade, a síndrome pode ser transmitida por qualquer pessoa, mas no Ocidente ela foi identificada inicialmente em comunidades gay. Pouco depois, reuniram-se aos “grupos de risco” os hemofílicos e usuários de drogas injetáveis.
Finalmente, descobriu-se o “vilão” da doença: o vírus da imunodeficiência humana (HIV), transmitido através do sangue e das secreções das mucosas sexuais. Não havia muito o que fazer: o HIV invade as células de defesa do organismo, permitindo a instalação de doenças oportunistas, que causam a morte do paciente.
O primeiro tratamento eficaz para a AIDS surgiu em 1995, com a administração conjunta de vários medicamentos, entre eles o AZT. São antirretrovirais, que combatem o vírus de várias formas: matam o vírus ou impedem que ele se fixe a uma célula humana para se replicar. Tratada adequadamente, a síndrome se torna uma doença crônica.
Mesmo com este avanço, a AIDS deve ser evitada, e não combatida. O uso de preservativo nas relações sexuais é um método simples de evitar a síndrome, que, uma vez instalada, exige a adoção de medicamentos por toda a vida, e muitos pacientes podem desenvolver problemas renais e hepáticos, em função das drogas usadas para combater o vírus. Enquanto não se encontrar uma vacina ou forma de cura, a prevenção é o melhor caminho.
Braço robô
Principalmente em função de traumas, muitas pessoas perdem os movimentos. Quando, num acidente, a coluna cervical é atingida, o paciente pode perder o controle das pernas, dos braços e mesmo o controle dos esfíncteres; a gravidade depende do local da lesão.
No final de 2012, foi anunciado que uma tetraplégica de 53 anos, paralisada do pescoço para baixo, conseguiu mover um braço mecânico, segurando objetos com a mesma facilidade com que faria com sua própria mão. Foram introduzidos implantes cerebrais para permitir que a paciente conseguisse mover o braço robótico.
A mulher foi diagnosticada com degeneração espinocerebelar 13 anos antes e progressivamente foi perdendo os movimentos. Ela recebeu dois sensores no córtex. Cem agulhas em cada sensor percebem a atividade de 200 células cerebrais.
Os neurônios transmitem informações através de pulsos elétricos. Estas vibrações são traduzidas para mover o braço. No segundo dia de treinamento, a mulher conseguiu controlá-lo e, em 14 semanas, adquiriu coordenação quase semelhante ao de uma pessoa não deficiente.
O estudo pode significar um grande avanço para pessoas com paralisia. É uma tremenda aquisição para a qualidade de vida para quem depende exclusivamente do auxílio de enfermeiros ou familiares para tarefas simples, como se vestir ou se alimentar.
Cegueira nunca mais
Cientistas alemães implantaram microchips sensíveis à luz na superfície interna dos olhos de cegos, restaurando a sua visão. São lentes com apenas três milímetros de diâmetro e espessura de 100 micra (mais finas que um fio de cabelo). Os pacientes conseguiram identificar expressões visuais e sorrisos.
Apesar de minúsculos, os chips possuem 1.500 detetores de luz, que transmitem impulsos elétricos através dos nervos, capazes de gerar as imagens. O implante é fixado sob a retina do paciente e substitui células degeneradas dos bastonetes e cones fotossensíveis de pessoas que sofrem de retinite pigmentosa, que acomete um em cada quatro mil pessoas no mundo.
No último estudo clínico, realizado com 11 pacientes, constatou-se que o microchip restaurou a visão funcional da maioria: oito identificam a luz, sete podem dizer o foco da luz e cinco conseguem detectar movimentos.