Quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram povos que praticavam apenas a economia de subsistência: plantavam uns poucos vegetais, caçavam, pescavam, coletavam e não conseguiam entender a ideia de acumulação de riquezas. Tinham comida e material para construir suas ocas e, para eles, isto era suficiente.
Colonizadores e aventureiros usavam as moedas de Portugal para suas transações, que aqui receberam alguns apelidos: tostão, vintém, cruzado, português e são-vicente, o nome adotado pela capitania mais bem sucedida no país.
No século XVI, o nome mais comum, no entanto, era o real, com o plural “réis”, que continuou valendo no país até 1942. Mas outras moedas surgiram. No golfo da Guiné e em Angola, os africanos utilizam conchas como moeda e, ao chegarem aqui (à força), encontraram muita “riqueza” nas praias brasileiras e continuaram utilizando as defesas dos moluscos como meio de troca.
Em 1614, o açúcar, uma das principais riquezas agrícolas brasileiras, passou a ser oficialmente aceito como moeda, a partir de um decreto do governante do Rio de Janeiro. Os comerciantes ficaram obrigados a aceitar o produto no pagamento de compras, além das moedas de réis. No final do século, em 1694, foi implantada a primeira Casa da Moeda brasileira, em Salvador (BA).
Em 1727, surgiram as primeiras moedas brasileiras com a efígie do governante de um lado e as armas do reino do outro, uma tradição europeia: é como se o próprio soberano garantisse o lastro – em ouro – do valor representado nas moedas de cobre e bronze. As figuras das moedas deram origem ao “cara ou coroa”.
A primeira moeda exclusivamente brasileira surgiu no final do primeiro governo de Getúlio Vargas, em 1942. Foi implantado o cruzeiro, o nome usado por mais tempo para o dinheiro brasileiro: ele retornaria várias vezes ao cotidiano nacional.
O Brasil foi, durante décadas, sinônimo de inflação alta, e este é um dos principais motivos para as constantes trocas de moeda. Em 1967, o cruzeiro perdeu dois dígitos e cem cruzeiros passaram a valer um cruzeiro novo. Durou apenas três anos e, em 1970, após mais um corte de dois zeros, a moeda voltou a ser o cruzeiro.
Permaneceu assim até 1986, quando o país já enfrentava a hiperinflação – mais de 100% anuais. Com o Plano Cruzado, editado em fevereiro, a moeda perdeu outros dois zeros e passou a se chamar cruzado. O plano econômico poderia até ter dado certo, se alguns ajustes tivessem sido feitos no meio do ano, mas, num período de eleições, o presidente José Sarney e sua equipe decidiram postergar as correções necessárias.
O PMDB – partido do presidente – deu um baile nas urnas eleitorais, mas o ano terminou com desabastecimento inclusive de produtos básicos. Comerciantes não queriam vender com prejuízo, e nenhum preço sofria reajustes, para não afastar eleitores. O Plano Cruzado foi por água abaixo.
Em 1989, o cruzado transformou-se em cruzado novo (olha o novo de novo aí, gente!) e a inflação se aproximava dos quatro dígitos. Ele durou pouco tempo, até a edição do primeiro pacote econômico de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito desde 1960, que retomou o cruzeiro (com mais um corte de zeros). Mas a gestão financeira de Collor foi caótica, a inflação anual ultrapassou os 1.100%.
Em 1993, durante o governo Itamar Franco (vice de Collor, que assumiu o poder após o impeachment do presidente), foi implantado o cruzeiro real, a primeira etapa do Plano Real, que finalmente domaria a inflação. Em março do ano seguinte, surgiu a URV – Unidade Real de Valor.
Em julho de 1994, foi lançada a nova moeda, o Real, que não cortou zeros. 2.750 URV passaram a valer um Real, o que teve um forte efeito psicológico, já que os brasileiros estavam acostumados às conversões monetárias. Com uma divisão tão diferente, os preços se tornaram completamente diferentes dos anteriormente praticados. Sem congelamento de preços nem confiscos, o Real mantém como a moeda oficial há 19 anos, em que a economia se mantém aquecida.