Até 2006, a Iugoslávia era um conjunto de nações independentes que, com a queda mundial do comunismo, se desintegrou em diversos países: Sérvia, Bósnia Herzegovínia, Croácia, Montenegro, Eslovênia, Macedônia e Kosovo. A região continua sendo, há muito tempo, um formador de conflitos entre a Europa e a Ásia.
O Kosovo, que no decorrer da história fez parte dos impérios: Romano, Bizantino, Búlgaro, Sérvio e Otomano, ainda não é considerado como nação independente por metade dos membros da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive o Brasil, a Rússia, a China e a Espanha. Estes países consideram o território como “província autônoma” da Sérvia.
As complicações na Iugoslávia – que, em idioma eslavo, significa “união das terras do sul” – começaram com uma combinação explosiva de etnias. Primeiramente, o território é uma encruzilhada entre diferentes culturas. Na Antiguidade clássica, era o território dos dácios e ilírios. A expansão e queda do Império Otomano determinaram principalmente a história da região.
A história das guerras da Iugoslávia
A península balcânica, que também inclui a Grécia, Albânia e partes da Bulgária, Romênia, Eslovênia, Áustria e a parte europeia da Turquia (Trácia), é uma “esquina” entre o leste e oeste, entre a Ásia e a Europa. O nome foi dado à cordilheira dos Bálcãs, como referência à separação entre a Sérvia oriental e o mar Negro.
De acordo com estudos arqueológicos, a região é habitada por humanos (ao menos por grupos seminômades) há mais de 200 mil anos. A cultura neolítica foi desenvolvida há nove mil anos e a principal característica é uma cerâmica bastante decorada.
Povos eslavos, sérvios, búlgaros e magiares sucederam os gregos; romanos e bizantinos conseguiram estabelecer pequenas cidades-estado na região, mas não suportaram o avanço do Império Turco-Otomano, que existiu entre 1299 e 1922. No auge, este reino compreendia a Anatólia, Oriente Médio, parte do norte da África e sudeste europeu.
A primeira guerra dos Balcãs durou de outubro de 1912 a maio de 1913 e colocou a Liga Balcânica (Sérvia, Montenegro, Grécia e Bulgária) em oposição aos turcos. Em superioridade numérica e com melhor capacidade estratégica e os Estados da região conquistaram a independência, separando-se do Império Otomano.
Por pressões da Itália e da Áustria-Hungria, foi criado o Estado albanês, retirando as reivindicações sérvias de uma saída para o mar. Mesmo assim, insatisfações com relação às fronteiras estabelecidas permaneceram. Além disto, a retirada dos otomanos reacendeu antigas rivalidades, que deram origem à segunda guerra dos Balcãs.
O conflito ocorreu em 1913. A Bulgária se revoltou contra os outros participantes da Liga Balcânica, que conquistou importantes aliados, como a Romênia e a Rússia. Ao fim do confronto, a Sérvia se tornou uma importante potência regional, fato que alarmou países vizinhos e gerou mais um fator para a deflagração da Primeira Guerra Mundial.
No final da guerra, a Bulgária perdeu boa parte do território conquistado na primeira guerra, mas aceitou um tratado de paz com a Macedônia. Os turcos-otomanos voltaram a controlar Constantinopla (atual Istambul). A Sérvia ganhou os territórios setentrionais da Macedônia e a Grécia passou a controlar o trecho sul do país, que perdeu a autodeterminação.
Em julho de 1914, o herdeiro do trono austro-húngaro, arquiduque Francisco Ferdinando, foi assassinado por um nacionalista iugoslavo, Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia. Foi o estopim para o início da guerra: em poucas semanas, as nações europeias entraram em conflito, gerando problemas em um contexto global.
De um lado, a Tríplice Aliança (Itália, Áustria-Hungria e Alemanha; apesar disto, a Itália nunca entrou em confronto) e, de outro, a Tríplice Entente (Inglaterra, Rússia e França). As alianças se expandiram. Mais nações entraram em guerra. Mais de 60 milhões de europeus combateram na Primeira Guerra Mundial, com um total de nove milhões de mortos.
As invasões foram generalizadas pelo continente: a Áustria-Hungria invadiu a Sérvia, a Alemanha invadiu a Bélgica, Luxemburgo e França (inclusive a capital, Paris) e o Império Russo ocupou parte da Alemanha. O conflito durou mais de quatro anos. A Revolução Russa de 1917 retirou os comunistas do combate e precipitou o fim da guerra.
O Reino da Iugoslávia foi proclamado em 1918, mas não manteve a integridade: foi dividido, invadido e remanejado diversas vezes, em função das diferenças políticas e de crença da população. Além disto, a população do país teve de enfrentar muitas invasões de vizinhos.
A República foi fundada em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Em janeiro desse ano, um cessar-fogo foi acertado e forças da ONU (Organização das Nações Unidas) passaram a supervisionar algumas regiões da Croácia dominadas pelos sérvios.
A ideia central era formar a “Grande Sérvia”, o Estado central da Iugoslávia. O regime comunista, coordenado pelo ditador Josip Tito, reprimia fortemente as rivalidades étnicas e religiosas, inclusive com as chamadas “limpezas étnicas”: o assassinato em massa das minorias, como eram tratados os islâmicos e os albaneses, por exemplo. O governo comunista, que perdurou até 1980, não era alinhado à União Soviética, apesar da proximidade dos territórios.
Com a crise do comunismo, divergências voltaram a surgir. A Sérvia, que mantinha o poder central da Iugoslávia, passou a sofrer questionamentos. Depois de muitos conflitos, em 1991, Croácia, Macedônia e Eslovênia declararam independência.
Croatas e bósnios, para justificar a autonomia, declararam as ações de limpeza étnica – e muitos dirigentes sérvios foram julgados e condenados pelo Tribunal de Haia, na Holanda, o principal órgão judiciário da ONU, que reconheceu o genocídio em diversas cidades destes países.
A guerra civil na Iugoslávia terminou com a independência dos demais países: Macedônia, Montenegro e Kosovo. Mesmo assim, a briga continua. A Grécia só concordou em aceitar a Macedônia como nação europeia depois que esta aceitou concordar com uma “Antiga” República da Macedônia em seu nome oficial.
O país, que reúne algumas das mais antigas tradições do Ocidente, se recusa a admitir uma nação com o nome de Macedônia, porque um de seus maiores imperadores – Alexandre, o Grande –, nasceu na região. Os conflitos permanecem.