Edward Sheriff Curtis nasceu no Estado do Wisconsin (EUA), em 1868. O interesse pelas fotos sempre esteve presente em sua vida, mas aumentou substancialmente quando a família se transferiu para Puget Sound, uma pequena localidade de Seattle (Estado de Washington, no noroeste dos EUA).
Curtis cursou apenas o ensino fundamental, mas tornou-se um fotógrafo autodidata. Ele construiu sozinho a sua máquina fotográfica, depois de estudar as lentes de um estereoscópio (instrumento que permite visualizar simultaneamente duas faces de um mesmo objeto).
Puget Sound era habitada por índios Duwamish e Suquamish, cujo patriarca, no século XIX, publicou a “Carta do Chefe Seattle”, sobre a venda do território para colonizadores de origem inglesa e holandesa. Curtis passou imediatamente a retratar os nativos norte-americanos.
Aos poucos, Edward Curtis passou a obter patrocínios importantes. Inicialmente, ele sustentava os projetos fotográficos com a venda de imagens para colecionadores particulares. Posteriormente, ele começou a receber apoio de amigos, doadores (entre eles, o banqueiro John Pierpont Morgan) e faculdades. O fotógrafo também fazia palestras na Academia Nacional de Ciências e no Hotel Waldorff-Astoria, entre outras instituições.
A obra de Edward Curtis
Uma das primeiras fotos de Edward Curtis retrata a filha do Chefe Siahl (transliterado para Seattle). A produção deve ter ocorrido por volta de 1896. Posteriormente, o fotógrafo e etnógrafo (ele não apenas registrava imagens, mas fazia anotações sobre o povo indígena) contou a amigos que havia pagado um dólar para que a jovem permitisse ser clicada enquanto recolhia moluscos à margem do rio.
Posteriormente, no final do século XIX, Edward Curtis transferiu-se por um período para o território dos índios Blackfoot, em Montana. Na região, ele conheceu George Grinnell, antropólogo da Universidade Yale que conviveu com os nativos por mais de 20 anos.
Nesta época, já com sólido apoio financeiro, ele decidiu dedicar-se às fotos apenas de índios residentes a oeste do rio Mississípi, do Novo México ao Alasca. O motivo da decisão foi um tanto equivocado: Edward Curtis acreditava que os índios do leste já estavam aculturados.
Nesta época, Edward Curtis decidiu dedicar-se exclusivamente a fotografia de temas indígenas, com o objetivo de preservar visualmente os costumes e tradições destes povos. O resultado deste trabalho está contido em 20 volumes expostos na Biblioteca do Congresso dos EUA.
No total, são cerca de 2.500 fotos, que já foram apresentadas no Brasil, na Galeria Caixa, no Rio de Janeiro (RJ), em 2009. Os visitantes puderam, durante três meses, conhecer a obra de Edward Curtis.
A história da fotografia do oeste americano e canadense pode ser mais bem entendida no contexto da época. No início do século XX, a arte fotográfica conheceu grande desenvolvimento; ao mesmo tempo, havia um forte movimento de expansão e colonização.
O governo incentivava o desbravamento das fronteiras, em um projeto que ficou conhecido como “Manifest Destiny” (o destino manifesto); a ideia era apresentar o projeto de consolidar o domínio do litoral do oceano Pacífico, apresentando as terras como paradisíacas.
A técnica
Em um período de transição entre a pintura e a fotografia, a obra de Edward Curtis apresenta um toque de romantismo. Algumas de suas fotos se aproximam bastante da gravura e do retrato. O estilo faz parte de uma escola fotográfica com fortes traços pictóricos.
Mesmo assim, o foco principal do fotógrafo se manteve na documentação do estilo de vida dos indígenas. Ele estudava as culturas que pretendia fotografar, em busca de pistas sobre o vestuário, rituais religiosos, objetos domésticos e agrícolas, armas, etc.
Para compreender os indígenas, Edward Curtis utilizava diversos recursos: entrevistas com caciques e guerreiros, acadêmicos, sertanistas, antropólogos em campo, recursos governamentais. O fotógrafo chegou a participar diretamente em algumas cerimônias, como os “suores” e a ordem da serpente, dos índios Hopi, do Estado do Arizona, no sudoeste do país.
Um pouco mais de história
Vale lembrar que houve graves conflitos entre os índios e os colonos europeus e seus descendentes. A guerra pelo controle do “Velho Oeste” (e, em seguida, da costa oeste) perdurou de 1778 (dois anos depois da declaração de independência americana) a 1890.
Durante todo este período, houve confrontos sangrentos e muitas chacinas por parte das duas partes. No entanto, não se pode esquecer que os índios estavam apenas tentando defender seu território de uma invasão que, talvez, provocasse o extermínio de muitas nações.
Quando Edward Curtis desenvolveu a sua obra, no entanto, a realidade era diferente. O governo americano negociou com as tribos vencidas, estabelecendo diversas reservas indígenas, das montanhas Rochosas até o Alasca. O fotógrafo, desta forma, recolheu muitas informações imprecisas; as condições de trabalho também não eram favoráveis: muitas vezes, laboratórios foram improvisados em tendas e cabanas.
Seja como for, as fotos de Edward Curtis retratam povos que, de acordo com as convicções da época, viviam o “indianismo primitivo”. Na verdade, contudo, este estilo de vida só pode ser entendido antes do contato entre “caras pálidas” e “peles vermelhas”.