O Estado Islâmico é uma organização jihadista (que defende “a guerra santa contra os infiéis” – todos os que não seguem os ensinamentos do Corão). O objetivo declarado do grupo, considerado terrorista pela maioria das nações (inclusive o Brasil), é purificar o Islamismo para devolvê-lo às raízes originais, que remontam ao século VII da Era Cristã. Para tanto, o Estado Islâmico usa armas que estão tirando o sono do Ocidente.
A pretensão inicial do Estado Islâmico era estabelecer um califado nas regiões sunitas do Iraque (um califado é um Estado em que os poderes políticos e religiosos são unificados). Com a escalada da guerra civil na vizinha Síria, o grupo passou a ocupar outras áreas, inclusive destruindo ruínas históricas de Palmira, patrimônio histórico da humanidade.
Oficialmente, o Estado Islâmico, declara ter autoridade sobre todos os muçulmanos do mundo, especialmente sobre os sunitas, que correspondem a mais de 80% de todos os seguidores do Islamismo. O grupo tem pretensões territoriais sobre a Jordânia, Israel (considerado “inexistente”), Palestina, Chipre e parte da Turquia.
As armas do Estado Islâmico
O grupo jihadista utiliza armamentos fornecidos originalmente para outros confrontos. Majoritariamente, o arsenal foi cedido pelos EUA para grupos rebeldes que queriam a deposição do ditador iraquiano Saddam Hussein, posteriormente diretamente deposto e morto por forças americanas, em 2006.
Em uma tentativa de interromper a guerra civil na Síria, iniciada em 2011 para interromper a ditadura dos Al-Assad (Hafez, no poder entre 1971 e 2000, e seu filho, Bashar, no poder desde então), observadores internacionais identificaram a origem das munições utilizadas no conflito: EUA (principal fornecedor), China, Rússia e Sérvia.
Isto significa que a estratégia de armar grupos rebeldes para depor governos “indesejáveis”, também adotada pelos russos soviéticos no Afeganistão, é contraproducente: estas forças de defesa simplesmente não têm capacidade de manter a custódia dos arsenais.
Boa parte deles, no caso, do Iraque, as armas foi para as mãos do Estado Islâmico. Em alguns casos, as armas foram tomadas em conflitos no norte do país, em que as forças jihadistas exibiram um poder bélico que impressionou o mundo.
Herança da Segunda Guerra
Tanques T-55 foram desenvolvidos pelos soviéticos. O primeiro protótipo é o T-54, criado em março de 1945, no final do conflito que envolveu boa parte do mundo. O T-55 entrou em produção em 1947 e tornou-se a principal arma pesada de guerra do Pacto de Varsóvia (coalização da URSS e os países da Cortina de Ferro).
Made in USA
O tanque M1 Abrams é o principal carro de combate do exército americano, com três versões lançadas desde 1980: M1, M1A1 e M1A2, cuja blindagem é eletrônica. É considerada uma das armas mais potentes do mundo em seu segmento, equipada com muitos sensores e armamentos.
O blindado garante grande probabilidade de acerto ainda no primeiro disparo, rapidez para fixar e alcançar os alvos e grande mobilidade em terrenos irregulares (como é o caso da fronteira entre Iraque e Síria). Em 1973, os EUA armaram Israel com o M1 Abrams, vitorioso na Guerra do Yom Kippur contra a Síria e o Egito.
Calibre 100 mm
Trata-se de um canhão desenvolvido a partir da Segunda Guerra Mundial, também pelos russos. As armas em mãos do Exército Islâmico são uma cópia chinesa. O canhão original tem alcance superior a 27 quilômetros e pode ser acoplado ao tanque T-55. O 59-1 é um dos principais caminhões rebocáveis de alto alcance do mundo.
O armamento também é utilizado pelo Camboja, Irã, Paquistão, China, Coreia do Norte, Tailândia, Vietnã, Myanmar, Tanzânia, República do Congo, Sudão, Zimbábue e Zâmbia.
Metralhadora da pesada
A DShK, ou Dektyaryov-Shpagin large calibre, é uma metralhadora soviética de calibre 12,7 x 108 mm. O equipamento pode ser transportado pelos soldados ou em carrinhos de duas rodas (a arma pesa 34 quilos). Foi desenvolvida nos anos 1930 na União Soviética e continua sendo utilizada, com diversas atualizações, até hoje.
A metralhadora, também constante do arsenal do grupo jihadista, dispara até 600 balas por minuto, o que demonstra o seu alto poder de letalidade. O Estado Islâmico adaptou diversas DShK, montando-as em caminhões, o que aumentou a mobilidade.
Metralhadora portátil
A M240 é uma metralhadora americana desenvolvida a partir do modelo belga FN MAG (mitrailleuse d’appui general, ou metralhadora de múltiplos propósitos). O armamento serve tanto para assaltos a posições fortificadas, quanto para suporte nas retiradas estratégicas.
A metralhadora, que dispara até 950 balas por minuto, já foi empregada na Guerra do Afeganistão, contra o Talibã (que teve início em 2001), na Guerra do Golfo (entre 1990 e 1991, entre forças da coalizão internacional lideradas pelos EUA e o Iraque, que havia ocupado o Kuwait) e na deposição de Saddam Hussein. Agora, está com o Estado Islâmico.
Sem prática nem habilidade
O RPG-7 é um lança-granadas russo utilizado em diversos conflitos bélicos. Este armamento é descendente das bazookas americanas e panzerfaust alemãs, desenvolvidas durante a Segunda Guerra. RPG significa rocket-propelled grenade (granada lançada por foguete). O alcance é de 200 metros de distância.
O “brinquedo” também está nas mãos do Exército Islâmico. Os prováveis fornecedores são o Hezbollah e o Hamas. Antes da ascensão do grupo jihadista, o RPG-7 já era encontrado com grupos de resistência do Iraque, que podem ter se tornado fornecedores compulsórios.
Flecha vermelha
O Hongjian-8 (ou HJ-8) é um míssil antitanques semiestacionário equipado com lançador tubular oticamente orientado, com uma probabilidade de letalidade que atinge mais de 80% e consegue perfurar a fuselagem de um helicóptero.
Hongjian é uma palavra chinesa que significa “flecha vermelha”. Os equipamentos em mãos do Exército Islâmico são da segunda geração, desenvolvida pelo Exército da Libertação do Povo, nome da força revolucionária que implantou o socialismo na China.
Antiaéreo portátil
MANDAPS, ou Man-Portable Air-Defense Systems (algo como sistemas de defesa antiaérea transportados por soldados), são armamentos especialmente indicados para o combate a aeronaves voando em baixa altitude, especialmente helicópteros e aviões de reconhecimento.
O manuseio é relativamente simples: o soldado apoia o lançador tubular no ombro, mira e dispara. Alguns armamentos são equipados com mira de raios infravermelhos ou por laser. Aparentemente, o Exército Islâmico está armado com os mais sofisticados.
Tecnologia em desenvolvimento
Um vídeo de propaganda transmitido pela internet por militantes do Estado Islâmico mostra um canhão antiaéreo que especialistas identificaram como sendo o chinês 65 ou 74 (o 74 é um desenvolvimento tecnológico do canhão 65). A versão original dispara 60 balas por minuto, a até 8,5 quilômetros de distância.
Algumas fontes indicam que o ex-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Hyon Yong-chol, foi morto, em abril de 2015, com um tiro de antiaéreo 65. Esta forma de execução seria aplicada a autoridades do primeiro escalão, para que sirva de exemplo aos demais. Mais um exemplo das “sutilezas” que uma ditadura pode imaginar.
Zenitnaya Ustanovka
A expressão russa significa “artilharia antiaérea”. O canhão ZU-23-2 é um armamento de calibre 23 milímetros, com alcance de 23 quilômetros. Foi desenvolvido na Belarus (atual designação da Bielorrússia, antiga república soviética) e pode atingir aviões, helicópteros e alvos terrestres.
Os canhões do Estado Islâmico foram tomados do exército iraquiano, durante confrontos diretos. Estes armamentos foram produzidos na Bulgária e na Polônia e introduzidos no país durante o processo de deposição do ditador Saddam Hussein.
Armas químicas?
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, o Estado Islâmico já desenvolveu (ou incorporou) tecnologia suficiente para produzir armas químicas – aquelas que matam as pessoas e mantêm instalações e equipamentos intactos.
O grupo jihadista estaria produzindo gases tóxicos, como gás mostarda e lewisite. A nota do ministério, divulgada em outubro de 2015, informa que o Exército Islâmico já usou estes armamentos na Síria. A produção exige tecnologias bastante complexas.