A Virgem Maria é objeto de veneração para católicos, ortodoxos e anglicanos. De acordo com as tradições destas religiões, a santa é Nossa Senhora, mãe de Deus, sempre virgem e toda santa. As demais igrejas evangélicas seguem apenas os textos e em geral não aceitam os santos católicos. No Espiritismo, Maria de Nazaré ocupa um espaço especial, mas a doutrina não concorda com a maioria dos dogmas relacionados a ela.
A devoção à Virgem Maria é a chamada hiperdulia; os demais santos são homenageados apenas com a dulia (veneração simples, fundada no dogma da comunhão dos santos). Para a Igreja Católica, Nossa Senhora é mãe de Deus – e, por extensão, de toda a humanidade – concebida sem pecado e, por isto, é a mais poderosa intercessora da humanidade perante a divindade.
Seja como for, muitos cristãos relataram, em vários momentos da história, aparições da Virgem Maria. Algumas delas se tornaram famosas e a Igreja Católica já reconheceu diversas delas, chegando a erguer capelas, igrejas e santuários nos locais em que Nossa Senhora teria se revelado.
Aparição da Virgem Maria na Espanha
A primeira aparição da Virgem registrada pela história ocorreu em Zaragoza, na Espanha, ainda no século I, poucos anos depois do martírio de Jesus. A santa surgiu para o apóstolo Tiago, cuja tradição afirma ter sido o introdutor do Catolicismo na Espanha (a história diz ainda que ele não obteve sucesso em avivar a nova fé entre os pagãos e retornou à Judeia, onde foi martirizado).
Nossa Senhora apareceu sobre uma coluna de luz e pediu a construção de um templo naquele local, fato que originou o culto a Nossa Senhora do Pilar e a construção de uma basílica. Zaragoza é o ponto de partida para o Caminho de Santiago, percorrido por peregrinos desde o século IX, para venerar relíquias do apóstolo (ainda de acordo com a tradição, os restos mortais do santo teriam sido levados à península Ibérica após o martírio).
Aparição da Virgem Maria em Roma
No século IV, a Virgem Maria apareceu ao papa Libério e outras duas pessoas. Em 363, um romano abastado e sem descendentes decidiu legar seus bens para a Igreja Católica. Na noite de 4 de agosto, depois de meditar bastante sobre a decisão, Nossa Senhora apareceu em seus sonhos e pediu que ele erguesse uma igreja em uma colina de Roma que, na manhã seguinte, amanheceria coberta por neve. O papa teve um sonho idêntico na mesma noite.
O homem e o papa foram para a colina observar o prodígio e, de acordo com a história católica, apesar de ser verão no hemisfério norte, a região amanheceu com muita neve. Roma é conhecida como cidade das sete colinas, mas em apenas uma podia-se observar o fenômeno climático.
A construção teve início imediato e foi dedicada a Nossa Senhora das Neves. O templo, no entanto, é mais conhecido como Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior), por ser o mais importante templo romano consagrado à Virgem.
A Virgem do Mar
Em 1061, em Walsingham, aldeia inglesa no Mar do Norte (perto de Norfolk), a Virgem Maria visitou uma senhora feudal chamada Richeldis de Faverches. Nossa Senhora mostrou, por três vezes, a casa em que morou em Nazaré e pediu que a mulher construísse uma réplica em suas terras. Ela teria dito: “faça isto para meu louvor e honra; todos os que tiverem necessidade deverão procurar a casinha que você vai erguer”.
A nobre não vacilou e mandou erguer a construção. A Igreja Católica construiu uma igreja para proteger a casinha. Peregrinos de diversos pontos da Europa passaram a visitar e construção. Muitos reis ingleses percorreram a pé e descalços a trilha da Capela Chinela (neste local, os fiéis deixavam os calçados) até a Casa de Nazaré.
Entre eles, um monarca britânico famoso: Henrique VIII. Consta que o rei percorreu o dobro do trajeto tradicional. Henrique, no entanto, rompeu com a Igreja Católica, que não concedeu o divórcio para que ele pudesse se casar com Ana Bolena. O rei passou a perseguir conventos, santuários e capelas da sua antiga fé. Em 1538, ele ordenou que a Casa de Nazaré fosse incendiada. Restou apenas uma parede, que resiste até hoje. O santuário foi reconstruído apenas no século XIX.
Renunciando aos bens terrenos
Simon Stock foi um inglês nascido em Kent, em 1165, filho de família nobre. Apesar das oportunidades de estudo e das perspectivas de poder, aos 12 anos, deixou o castelo dos pais e tornou-se eremita. Por 20 anos, Simon, viveu isolado, no oco de um tronco de carvalho, na floresta de Oxford, em contemplação, preces e penitências.
Certa noite, o santo sonhou com a Virgem Maria, pedindo a Simão que se unisse aos monges do monte Carmelo (a ordem dos carmelitas, sediada no litoral do atual Israel, é uma das mais antigas e a primeira em homenagem a Nossa Senhora). Simon obedeceu.
Retornou ao castelo familiar, retomou os estudos, formou-se em Teologia e foi ordenado como sacerdote. Enquanto esperava a chegada dos carmelitas, dedicou-se a visitar aldeias da região, visitando pobres e doentes, sempre evangelizando.
A ordem passou por períodos difíceis, com a perseguição de outros grupos religiosos. A Virgem Maria apareceu em 1251, desta vez enquanto ele estava em vigília. A tradição conta que a santa surgiu cercada de anjos e entregou a Simon um escapulário, até hoje símbolo dos carmelitas.
Ela disse: “este é um privilégio para você e para todos os carmelitas; quem morrendo vestindo-o, certamente se salvará”. No ano seguinte, o Vaticano oficializou a ordem. O escapulário do Carmo se difundiu rapidamente e até hoje é uma peça devocional.
A origem do rosário
São Domingos de Gusmão foi um frade nascido no Reino de Castela (atualmente, a região integra a Espanha). Ele fundou a Ordem dos Pregadores, com o objetivo de evangelizar os povos do norte da Europa. Em 1214, em Toulouse (França), Gusmão se penitenciou por três dias, para que Deus permitisse a conversão dos albigenses (grupo cristão que baseava suas práticas religiosas com princípios maniqueístas e gnósticos).
Quando já estava bastante machucado pelos cilícios, a Virgem encaminhou-se até ele, acompanhada por três mulheres que haviam conquistado o Paraíso, representando os três terços do rosário. Nossa Senhora perguntou ao frade: “tu sabes de que arma se serviu a Santíssima Trindade para reformar o mundo?”. Gusmão respondeu afirmativamente (o instrumento da reforma foi Jesus, segunda pessoa da Trindade, que se sacrificou para limpar os pecados e, desta forma, salvar a humanidade, de acordo com os dogmas católicos).
Maria de Nazaré revelou, então, que a principal peça para que isto pudesse ocorrer foi a saudação do anjo Gabriel (“ave, Maria, cheia de graça”); foi a revelação de que ela seria mãe de Deus. E pediu que o frade rezasse o seu rosário.
Depois da aparição, Gusmão dirigiu-se à Catedral de Toulouse, enquanto os sinos tocavam sem intervenção humana (é o sinal para os fiéis irem à igreja). Durante a pregação, caiu uma forte tempestade e ocorreram abalos sísmicos. O frade começou a rezar e a chuva finalmente cedeu. Desde então, o rosário (um conjunto com 150 Ave-Marias, 150 louvores a Jesus e 150 louvores a Maria) se tornou bastante popular, permanecendo como prática católica até hoje.
Antes da Lei Maria da Penha
Joaneta Varoli foi uma camponesa italiana constantemente agredida pelo marido. Em 1432, no entanto, a história começou a mudar. Ela morava em Caravaggio, à época nos limites entre a República de Veneza e o Ducado de Milão, dois estados em conflito permanente: pouco antes da aparição, uma batalha havia devastado a região.
Joaneta descreveu a mulher da visão como “uma rainha, mas cheia de bondade”. A Virgem Maria pediu para ela não ter medo e afirmou ter conseguido afastar os cristãos dos castigos merecidos, provocados pela ira divina (para os católicos, Nossa Senhora é a medianeira de todas as graças). Ela pediu ainda que o povo voltasse a fazer penitências, jejuns e orações. Ela também ordenou a construção de uma capela.
Como sinal da veracidade das comunicações, no local em que a Virgem Maria pousou os pés, surgiu uma fonte abundante. Joaneta levou a mensagem para os governantes locais, pedindo que a paz fosse firmada. Ela teve audiências com o senhor de Caravaggio, ao duque de Milão e ao imperador do Oriente. Nas visitas, ela levava jarros de água da fonte santa.
A água de Caravaggio teria sido responsável por muitas curas, a paz entre Veneza e Milão, a reforma do caráter de Francisco (marido de Joaneta), além de reaproximar o Catolicismo e a Igreja Ortodoxa. Depois de cumprir a missão determinada pela Virgem Maria, no entanto, Joaneta retornou ao anonimato e nada se sabe sobre a sua vida a partir deste ponto.
Chegando à América
Em 1531, Nossa Senhora dirigiu-se a Juan Diego Cuauhtlaoatzin, índio da tribo Nahua, nativo do México (posteriormente canonizado pela Igreja Católica), em Tepeyac (noroeste da atual capital do país). Ela identificou-se como a mãe do deus verdadeiro, fez crescer flores em uma colina da região semidesértica em pleno inverno (que deveriam ser levadas ao bispo local, como prova da comunicação) e pediu a construção de um templo.
A Virgem Maria deixou a impressão de sua imagem nas roupas de Juan Diego. Um estudo da Universidade Nacional Autônoma do México, em 1946, comprovou que o tecido havia sido feito com fibras de agave, que não duram mais de 20 anos. Em ampliações da imagem, os olhos de Nossa Senhora parecem refletir o que estava à sua frente: o indígena. Em mais de 250 anos, a peça de vestuário nunca apresentou sinais de deterioração.
Nossa Senhora de Guadalupe é a padroeira da Cidade do México e do país (desde 1737), padroeira da América Latina (desde 1945) e imperatriz da América (desde 2000).
Na Rússia
No canato de Kazan, território conquistado pouco pelo rei Ivan, o Terrível, que decidiu cristianizar a região, a Virgem Maria também fez a sua intervenção. Canato (ou canado) é uma aldeia governada por um khan (senhor tribal, independente da extensão do território), título de senhores mongóis que se espalharam por toda a Ásia Central, a partir do século V.
Gradativamente, Kazan se tornou uma cidade católica, sediando muitas igrejas e mosteiros. Em 1579, um incêndio destruiu metade da cidade. Em uma aldeia próxima, também ocorreram focos de incêndio. Um arqueiro local tinha uma filha, Matryona, a quem a Virgem Maria apareceu em sonho e revelou o local de um ícone em sua homenagem, enterrada por muçulmanos que seguiam em suas crenças, mas mantinham segredo desta condição.
A menina, de apenas dez anos, contou o sonho para a mãe, que de início não deu importância. Nossa Senhora apareceu mais duas vezes. Desde então, Matryona implorou que a mãe a levasse ao arcebispo da cidade, que não deu importância ao relato.
A garotinha pegou uma pá e começou a cavar, ela mesma, um local logo abaixo de um fogão, encontrando rapidamente o ícone. Kazan se tornou local de peregrinação. O arcebispo e até funcionários municipais imploraram o perdão de Maria para a sua incredulidade. A imagem foi transferida para a Catedral da Anunciação, em Moscou.
Nos Alpes franceses
Em 1846, a Virgem Maria entrou em comunicação com dois jovens franceses, de 11 e 15 anos. O fato aconteceu na montanha de La Salete, em Isère. A aparição ocorreu três vezes aos pequenos pastores, que viram uma luz resplandecente, em que uma mulher aparecia chorando. A senhora ergueu-se e pediu que as crianças se aproximassem.
Ela disse que, se o povo não se submetesse às verdades divinas, ela não poderia mais conter o braço de seu filho (que era pesado demais). O relato da aparição afirma que Nossa Senhora se vestia como as mulheres da região (vestido longo e avental), mas com muito brilho. Ela pediu que a população local voltasse a dedicar o domingo ao Senhor.
Sobre os ombros, a Virgem Maria trazia uma pesada corrente. Em uma ponta, atavam-se um crucifixo e um martelo e, na outra, uma torquês.
Ela disse que, se o povo retomasse a fé, as colheitas seriam fartas e mandou as crianças transmitirem a mensagem. Em seguida, o brilho que envolvia a aparição aumentou e a imagem de Nossa Senhora lentamente desapareceu.
Ainda na França
Uma das declarações feitas em La Salete diz respeito a outra aparição da Virgem Maria, desta vez em Lourdes, também na França. Em 1874, Bernadette Soubirous, uma camponesa de 14 anos, foi advertida por sua mãe (um castigo corporal, na verdade), porque afirmava ter visto uma dama na gruta de Massabielle (a 1,5 quilômetro da cidade), enquanto estava recolhendo lenha.
As aparições da Virgem Maria para a garota, no entanto, continuaram por três anos. Na primeira vez, enquanto retirava os sapatos para cruzar um riacho, Bernadette ouviu o ruído de rajadas de vento, mas as copas das árvores estavam imóveis. Dirigiu-se à gruta e foi surpreendida por um brilho intenso. Ela identificou uma mulher vestida de branco, com uma faixa azul na cintura e um rosário nas mãos, em atitude de oração.
A camponesa retornou à gruta com duas amigas, “armada” água benta, para afastar a aparição, caso ela proviesse do maligno. A Virgem Maria, no entanto, ao receber as primeiras gotas, apenas fez uma reverência, em sinal de gratidão. Em outro momento, Nossa Senhora prometeu que faria a jovem bastante feliz, mas “na outra vida”.
Bernadette foi proibida, pelos pais e até pelo comissário de polícia, mas continuou em contato com a Virgem Maria, que pediu oração e penitência, para a conversão dos pecadores. Nossa Senhora pediu que a garota escavasse o solo da gruta e bebesse a água que jorraria. A notícia se espalhou e muitos enfermos foram até Massabielle. Há ao menos sete curas atribuídas à água da gruta.
A Igreja Católica decidiu organizar uma equipe para investigar os fatos. Em 1860, o bispo local afirmou que a Virgem Maria realmente apareceu a Bernadette Soubirous. As aparições de Lourdes não são um artigo de fé para os católicos, mas todos os papas (chefes da Igreja Católica e do Vaticano) peregrinaram até a gruta, em um preito de veneração.
Na “terrinha”
Durante um período de seis meses, em 1917, sempre no dia 13 de maio, a Virgem Maria apareceu em Fátima (Portugal) para três pastores. A aparição está relacionada a Nossa Senhora do Rosário. Maria teria se identificado às crianças como “a Senhora do Rosário”, fato que originou a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Lúcia, Jacinta e Francisco, as três crianças, afirmaram ter conversado com a Virgem Maria logo depois de terem rezado o terço, enquanto apascentavam ovelhas perto da Cova da Iria. O relato afirma que os pastores viram um brilho forte, que atribuíram a um relâmpago. Ao se aproximarem, reconheceram uma senhora mais brilhante do que o Sol.
Maria aconselhou-os a aprender a ler e escrever e a rezar muito. Disse que tinha revelações a serem feitas à humanidade. Lúcia de Jesus Santos tornou-se freira e, já no convento, recebeu novamente a Virgem Maria. A santa pediu a devoção dos cinco primeiros sábados (rezar o rosário, meditar sobre os mistérios da fé, confessar-se e comungar, em reparação aos pecados cometidos pela humanidade).
Aparição da Virgem Maria no Brasil
As aparições da Virgem Maria parecem estar retornando. Desde 2013, monges da Ordem Graça e Misericórdia (que se apresenta como cristã e ecumênica, sem vínculos com a Igreja Católica) vêm afirmando novas aparições de Nossa Senhora. De acordo com a ordem, Maria não se apresenta visualmente, mas pode ser sentida íntima e espiritualmente.
A primeira aparição pública da santa ocorreu em Carmo da Cachoeira (MG), em 2011. Neste evento, a Virgem Maria anunciou o início de uma nova série de revelações, semelhante à que ocorreu em Salete, Lourdes e Fátima. Atualmente, a ordem já relaciona 90 aparições em todo o país.
A ordem mantém reuniões de preces e meditação franqueadas ao público. Os monges recomendam que os fiéis se preparem em uma vigília de oração, antes de participarem dos encontros místicos. Nossa Senhora costuma pedir orações e transmitir mensagens de paz. Atualmente, a Virgem Maria tem instado a população para ter um cuidado especial com os povos indígenas.