Arritmia cardíaca pode causar a morte

O coração tem um ritmo adequado. Em humanos adultos, ele bate entre 60 e 100 vezes por minuto (de acordo com a atividade desenvolvida), para fazer o sangue circular. Durante uma arritmia cardíaca, no entanto, os batimentos perdem a uniformidade e este descompasso pode causar a morte.

Quando o coração desacelera (abaixo de 60 batimentos por minuto), temos uma bradicardia. Quando ele fica acelerado (acima de 100), ocorre uma taquicardia. Mesmo assim, em atletas, indivíduos jovens e bem condicionados fisicamente, o ritmo pode ser mais lento, sem que haja qualquer anormalidade. Durante o sono, 30 batimentos por minuto podem ser considerados normais.

Isto ocorre porque, quando estamos adormecidos, nosso metabolismo – o funcionamento do organismo – se torna bem mais vagaroso. Por esta razão, as células demandam menos oxigênio. Durante uma atividade física intensa ocorre o contrário: as células exigem mais energia e a frequência cardíaca sobe para dar conta do esforço.

O coração

Antes de falar sobre arritmia cardíaca, é preciso saber um pouco mais sobre o funcionamento do órgão que já foi considerado sede da vida e dos sentimentos (e, até hoje, é o símbolo do amor). O coração é um músculo classificado à parte em nosso organismo: os músculos estriados são controlados pela nossa vontade e, uma vez que ficam ligados aos ossos, permitem a movimentação.

Os músculos lisos independem da nossa vontade: eles são responsáveis pelo funcionamento dos órgãos internos, acionados quando eles estão em ação (por exemplo, na deglutição, os movimentos do esôfago, que levam os alimentos para o estômago).

O músculo cardíaco é estriado, mas não é possível controlá-lo; por isto, recebe classificação única. O coração é um órgão muscular contrátil, constituído por duas bombas (separadas por um septo vertical). Sua função é empurrar oxigênio e nutrientes para as células, através das sístoles (contrações). Na volta, através das diástoles (relaxamentos), o coração puxa o sangue carregado de dióxido de carbono para os pulmões, onde acontecem as trocas gasosas.

O coração consegue desempenhar estas funções porque possui um sistema elétrico específico, que determina o ritmo e a sincronização para cada tipo de atividade mecânica do órgão, que, desta forma, funciona como um marca-passo natural, relaxando e contraindo o músculo compassadamente. Assim, continuamos vivendo.

Curto-circuito

Uma arritmia cardíaca é literalmente uma alteração elétrica. Emoções muito fortes, surpresas e esforços físicos excessivos são alguns dos responsáveis por esta condição, que, em alguns casos, pode provocar falta de ar, dores no peito, palpitações, desmaios, fadiga e, nos casos mais graves, até a morte súbita cardíaca (MSC).

Além da alteração dos batimentos, que se tornam rápidos ou acelerados, outros sinais podem indicar a instalação de um quadro de arritmia cardíaca: incômodo, peso ou dor no peito (não necessariamente do lado esquerdo), suor em excesso e palidez são outros sintomas.

Apesar de, em metade dos casos, a morte súbita cardíaca ocorrer sem sintomas prévios, ela pode ser evitada. Além disto, trata-se de um quadro reversível em muitas vítimas, caso seja tratada com massagem cardíaca, cardioversão (os populares choques no tórax) ou procedimento de ablação por radiofrequência (introdução de um cateter através de vasos sanguíneos até o coração, para eliminar rotas elétricas anormais).

A intervenção, porém, deve ser urgente: tentativas de ressuscitação após dez minutos da parada cardíaca raramente são bem sucedidas e, a partir de três minutos sem batimentos, o cérebro já começa a sofrer danos – que podem ser irreversíveis.

As arritmias não são necessariamente malignas. Em condições normais, elas podem ser causadas por visitas há muito tempo esperadas ou pelo beijo apaixonado que marca “um final feliz” (neste caso, é apenas um começo).

Algumas pessoas, no entanto, precisam se proteger especialmente: são os portadores de doenças cardíacas como infarto do miocárdio e doença arterial coronariana (nestes casos, que representam 80% das emergências, as arritmias estão relacionadas ao desgaste da área do órgão afetada), insuficiência e sopro diastólico, além de pessoas com histórico familiar de arritmias cardíacas. Pacientes submetidos a cirurgias do coração também estão relacionados entre os indivíduos com maior risco.

AVC

A arritmia cardíaca maligna também pode ser responsável por um choque cardiogênico isquemia cerebral, a redução localizada da oxigenação do fluxo sanguíneo no cérebro. Em apenas dez segundos, a região não irrigada pode provocar desmaios, desorientação e, no caso de ocorrer uma fibrilação atrial – a formação de coágulos sanguíneos no coração –, as fibrinas (proteínas também envolvidas no processo de coagulação) podem se desprender e atingir o cérebro através das artérias que oxigenam o órgão, levando a um acidente vascular cerebral.

Fatores de risco

Além do histórico de doenças, muitos outros fatores estão associados às arritmias cardíacas e à MSC. Artérias coronarianas bloqueadas por trombos ou coágulos, problemas da tireoide, hipertensão arterial, diabetes (inclusive gestacional), alcoolismo, tabagismo, drogas ilícitas, consumo excessivo de cafeína (além do café, o chá preto, chocolate, energéticos e refrigerantes à base de cola são ricos neste alcaloide) podem predispor ao quadro e às possíveis sequelas.

Certos fatores são quase insuspeitos. Estresse, alguns medicamentos, suplementos diários de minerais e vitaminas, abuso de remédios fitoterápicos, apneia do sono e níveis de alguns eletrólitos no sangue, tais como cálcio, sódio e potássio, e até a poluição atmosférica podem ser os vilões da história. Outras condições são óbvias: um choque elétrico pode causar alterações no equilíbrio do coração, provocando uma arritmia cardíaca.

Como prevenir as arritmias cardíacas?

A melhor maneira é eliminar os fatores que predispõem as arritmias cardíacas e garantir o tratamento das doenças, especialmente os males associados à MSC. A eliminação do sedentarismo e do abuso de açúcares e gorduras também ajuda a reduzir as estatísticas.

Autoridades públicas de saúde precisam se esforçar pela implantação de desfibriladores externos automáticos (aparelhos de choque) em locais com grande fluxo de pessoas e pelo treinamento de equipes de paramédicos para operar os equipamentos. O ideal é qualquer estabelecimento que receba mais de duas mil pessoas por dia (estações de trem e metrô, shopping centers, estádios e ginásios, aeroportos, etc.) precisam ser equipados.