O arrebatamento é um dogma presente em muitas interpretações sobre o fim do mundo: os últimos eventos da história ou o final do gênero humano na Terra. De acordo com esta tese, a segunda vinda do Cristo será um acontecimento objetivo (trata-se do dispensacionalismo, período entre a vinda de Jesus e o final propriamente dito). No momento do arrebatamento, o Messias recolheria os salvos para a Nova Jerusalém, cumprindo promessa evangélica; os que, até esse momento, não tiverem aceitado Jesus como salvador, permanecerão na Terra.
O conceito do arrebatamento foi desenvolvido pelo teólogo e pastor irlandês John Nelson Darby, que traduziu a Bíblia para o inglês a partir de textos hebraicos e gregos e criou a doutrina do dispensacionalismo, em Dublin, por volta de 1825. É uma interpretação de vários textos bíblicos, especialmente do Apocalipse. O arrebatamento determina o fim da era da graça, interpretado como o fim da possibilidade de salvação, encerramento das manifestações divinas na Terra e pausa na criação de almas destinadas à redenção.
Não se sabe quando ocorrerá o arrebatamento: de acordo com o Evangelho segundo Mateus, “daquele dia e hora, porém, ninguém o sabe, nem os anjos do céu, nem o filho, apenas o pai”. No entanto, é sabido que ele ocorrerá apenas depois que o “Evangelho for pregado até o fim do mundo, em testemunho a todas as nações” (outra passagem de Mateus).
A maioria das correntes cristãs que aceitam o arrebatamento afirma que, após o advento, haverá um período caótico de sete anos. Na primeira metade deste tempo, os habitantes da Terra experimentarão um sentimento falso de paz; em seguida, confrontos bélicos se espalharão pelo planeta. No tempo das guerras, surgirá um líder político mundial, o Anticristo, um líder ecumênico, o Falso Profeta, que pregará uma nova religião e um novo deus: a Besta. No Brasil, as igrejas neopentecostais são exemplos de confissões que creem neste dogma.
A presença da igreja na Terra, tutelada pela ação do Espírito Santo, tem impedido a ação plena das forças diabólicas, de acordo com os crentes. No entanto, quando os santos forem arrebatados – e neste rol estão relacionados os fiéis cristãos –, o Diabo poderá atuar livremente.
Estes sete anos são chamados “a grande tribulação”, identificado no Antigo Testamento como o dia do Senhor, tempo de angústia de Jacó, a grande angústia, a ira e o dia da vingança. No Novo Testamento, além também é identificado com a grande aflição citada em Mateus.
Encerrada a grande tribulação, os maus seriam arrastados para o Inferno e Jesus voltaria com os salvos para reinar Terra por mil anos (é o milenarismo, crença surgida no século III). Encerrado o milênio, acontecerá finalmente a batalha do bem contra o mal, o Diabo será finalmente encerrado no Inferno e um ”novo céu” e “uma nova terra” serão construídos. Segundo os crentes, a aceitação destes conceitos fortalece a fé num mundo sem dores, tristeza nem morte.
A interpretação católica
A teologia católica não aceita o arrebatamento e, à época do surgimento do milenarismo (surgido entre cristãos da Turquia e Egito), considerou a interpretação como uma heresia (crença contrária às revelações divinas). Para os católicos e também para boa parte das igrejas protestantes históricas, a segunda vinda do Cristo será a sua manifestação gloriosa para os homens, no momento do juízo final: cada ser humano será julgado segundo a sua fé e as boas obras.
O julgamento será definitivo, determinando a sorte eterna da humanidade, para a comunhão com Deus ou para o afastamento definitivo, sem qualquer possibilidade de redenção. Algumas correntes acreditam que o Apocalipse será simbólico, uma luta interna de cada ser entre o bem e o mal, mas a maioria das igrejas entende que será um fato real, com a liberação dos quatro cavaleiros: fome, doença, guerra e morte e o confronto final entre Jesus e o Diabo: o Armagedon bíblico.
Na literatura
Além dos diversos livros de estudos bíblicos disponíveis no mercado, o arrebatamento foi popularizado pela série de livros “Left Behind” (Deixados para Trás), escritos pelo pastor Tim La Haye e o jornalista Jerry Jenkins, ambos americanos. A coletânea tem 12 livros editados e descreve ficcionalmente como ocorrerá a vinda do Cristo.
A saga tem início com a narração do momento em que instantaneamente milhões de pessoas desaparecem misteriosamente, deixando todos os pertences materiais: roupas, acessórios, óculos, e até próteses dentárias e aparelhos para surdez. “Deixados para Trás” já vendeu 70 milhões de cópias e foi traduzido para 34 idiomas, inclusive o português.
São mais de 40 títulos (inclusive adaptados para o público jovem), dez deles editados no Brasil. Os três primeiros volumes foram transformados em filmes, nos EUA, mas o autor não ficou satisfeito com a qualidade e exigiu judicialmente os direitos autorais, o que impediu a continuidade da produção.