Em Naha, capital de Okinawa (a província japonesa situada mais ao sul do país), as praias impressionam pela beleza e pela limpeza, mas o mais surpreendente é que os grãos de areia têm forma de estrela. Não é areia de verdade (areia é o conjunto de partículas de rochas degradadas, compostas basicamente por dióxido de silício).
As estrelas que recobrem as praias de Naha são milhões de exoesqueletos calcários de foraminíferos, seres protistas com pseudópodos (“pés falsos”) reticulados, que se ramificam e se fundem em uma rede. Nestas praias japonesas, o responsável pelo espetáculo é a espécie “Baclogypsina sphaerulata”, que vive na superfície da água do mar.
Os responsáveis
Seu exoesqueleto apresenta cinco ou seis espinhos (ou braços), que auxiliam na locomoção e armazenamento da sua principal fonte de alimentação, as diatomáceas (seres milimétricos dotados de carapaça; eles vivem em colônias, como forma de proteção).
A maioria dos foraminíferos não atinge um milímetro de diâmetro, mas algumas espécies podem chegar a dois centímetros. Eles povoam a Terra desde o Período Pré-Cambriano (entre 4,5 bilhões e 570 milhões de anos atrás).
A praia que reúne o maior número de estrelas é Hoshizuna no Hama, localizada na ilha de Iriomote (a segunda maior ilha do arquipélago Hyukyu), no extremo norte da província (Hama significa “praia de areia estrela”). Ao morrerem, eles “legam” a sua carapaça de carbonato de cálcio, que o mar se encarrega de depositar no litoral.
O hábitat das estrelas
Em todo o arquipélago japonês, é comum encontrar concentrações de estrelas nas praias especialmente depois de tempestades e da passagem de tufões, que se formam anualmente no final do verão, entre setembro e novembro.
Os foraminíferos preferem viver em águas rasas, muitas vezes usando as algas marinhas para se ancorar. Na ilha de Iriomote, os tufões são mais frequentes e varrem a região a partir do início do verão. Os organismos à tona d’água são naturalmente varridos pelos ventos e terminam por forrar todo o litoral. Esta, claro, foi uma ação de muitos milênios.
Iriomote é uma região muito chuvosa (precipitação pluviométrica de 2.500 mm ao ano), praticamente totalmente recoberta por vegetação de transição: 90% do território são ocupados por florestas tropicais e subtropicais. É um dos últimos redutos naturais do Japão e um terço da ilha é ocupado por uma reserva florestal. A ilha possui apenas quatro vilas (todas localizadas no litoral), habitadas por menos de dois mil habitantes.
A ilha é colonizada por um felídeo raro encontrado somente na região. Observado pela primeira vez em 1965, o “Prionairulus bengalensis iriomotensis” (gato-leopardo, ou leopardo-asiático) está ameaçado de ser extinto: sua população é estimada em apenas 100 indivíduos. A ilha também é caracterizada por árvores de mangue gigantes e por uma infinidade de aves e répteis.
A visitação é controlada, mas muitos turistas procuram a ilha de Iriomote para a prática de canoísmo (o rio Urauchi é o mais extenso de Okinawa), com direito à vista de diversas quedas d’água no percurso sinuoso e também para o mergulho. Com exceção do período de tufões, a água do mar é cristalina, permitindo boa visão da fauna e flora.