O apetite é uma característica comum a muitas formas de vida. Ele indica que o organismo precisa de nutrientes para continuar trabalhando de forma adequada. Nos animais predadores e coletores, ele de desenvolveu, para garantir estoques – ao menos de gordura – para garantir a energia necessária em tempos de escassez. No entanto, é preciso aprender a controlar o apetite, para manter a saúde e a qualidade de vida em dia.
O ser humano depende de caçadores, pescadores e coletores – muitos de nossos contemporâneos ainda obtêm recursos alimentares destas maneiras. A agricultura surgiu muito tempo depois: há cerca de dez ou doze mil anos, enquanto a nossa espécie pode ter surgido 400 mil anos atrás, sem contar os nossos ancestrais da espécie Homo.
Depósitos estratégicos de gordura – especialmente no abdômen – foram fundamentais para a nossa evolução. Sem encontrar o que caçar ou colher, estes depósitos se transformam rapidamente em energia, para “movimentar” a máquina orgânica. Há muito tempo, porém, isto não é mais necessário: basta ir ao supermercado ou, para os mais folgados, até a geladeira.
Por isto, é preciso aprender a controlar o apetite. Podemos tomar refeições a qualquer momento – e escolher o cardápio. Por isto, muitos de nós exageramos na dose e nos tornamos gordinhos ou gordões, condições que afetam nosso desempenho e comprometem a saúde.
Dietas superpoderosas
Quase todas as pessoas que estão inequivocamente acima do peso tentam se livrar dos quilos extras com recursos milagrosos. Perder peso é possível, mas apenas com reeducação alimentar e prática de exercícios físicos. Para muitos, no entanto, adotar estas atitudes parece ser muito difícil.
Desta forma, especialmente quando chega o verão (e o corpo fica mais à mostra), muitos recorrem às dietas milagrosas: da maçã, da água, do suco de limão, do pão, do ovo, da banana, etc. Há tempos, circulou até uma dieta atribuída a Chico Xavier (médium mineiro morto em 2002), baseada apenas em água e grãos de arroz equivalentes ao número de quilos a serem eliminados.
A receita podia ser feita em apenas três dias e era cheia de superstições, como usar sempre o mesmo copo e não fazer regime. O “devoto” deveria também distribuir cópias da dieta em número equivalente ao peso perdido. Muitas pessoas perderam os tais três dias, mas certamente não emagreceram. De acordo com o teor de amido dos grãos, pode ter até ganhado uns quilos sobressalentes.
Rendendo-se às tentações
A vida moderna suga quase todo o nosso tempo e muitos de nós nos rendemos às tentações da urbanidade: fast food. Sem tempo para cozinhar, nem para degustar uma boa refeição em um restaurante, a solução lógica é seguir até a lanchonete mais próxima.
Um cheeseburger, por si só, já é muito gorduroso. Acompanhada por fritas, refrigerantes, milk-shakes, tortas industrializadas, a refeição se torna uma bomba calórica. Dar uma escapada semanal com um combo, uma pizza ou uma caixa repleta de esfihas é perfeitamente aceitável para quem está com o peso (e a saúde) em dia. Quem quer emagrecer, no entanto, precisa esquecer as gostosuras, ao menos por algum tempo.
Ao menos até aprender a controlar o apetite.
Comida vicia?
Vários estudos indicam que o consumo excessivo de açúcar, proteína e gordura tende a fazer o organismo se acostumar a esta rotina. Em outras palavras, a ficar viciado. Glicídios, protídios e lipídios (açúcar, carnes e queijos e gorduras) estão relacionados à liberação de hormônios que aumentam a sensação de bem-estar, como serotonina e dopamina, que também reduzem os intervalos em que o organismo “avisa” que está na hora de comer de novo.
Isto provoca um círculo vicioso. O guloso quer sempre mais burgers, fries, cokes, beers e outras guloseimas – e elas provocam o encurtamento progressivo dos intervalos entre as refeições. Não é preciso fazer muitos cálculos para descobrir o resultado desastroso desta condição.
A culpa é do açúcar?
Alimentos ricos em açúcar reduzem a produção de insulina pelo pâncreas. A queda da insulina provoca mais “gritos de quero mais” pelo organismo e o aumento do consumo de doces se torna cada vez maior, contribuindo para um aumento crescente – e alarmante – dos casos de diabetes.
O consumo de açúcar refinado preconizado pela Organização Mundial de Saúde é de 10% da ingestão total de alimentos. Para uma dieta de duas mil calorias diárias (suficientes para a manutenção orgânica de um adulto de 70 kg), a ingestão de açúcar deve se resumir a apenas 200 calorias, pouco menos de duas colheres de sopa. A maioria dos mortais, no entanto, não se contenta apenas com isto.
Para quem não se contenta com o gosto natural de frutas e chás, por exemplo, fica a sugestão de trocar o açúcar branco por outros adoçantes, como o mascavo, o demerara e a stévia (que inclusive oferecem nutrientes que desaparecem durante o processo de refino).
Diabéticos e obesos precisam lançar mão dos adoçantes sintéticos, sempre com acompanhamento de seus médicos.
A culpa é da gordura?
O limite entre o prazer e o vício é a incapacidade de saber parar. Isto vale para qualquer vício, não apenas os alimentares. A questão que se coloca é: comemos mais gordura do que o necessário porque somos esfomeados ou somos esfomeados porque comemos muita gordura?
A resposta é: o mesmo círculo vicioso. A gordura salienta o sabor dos pratos – e até empresta algum sabor para alimentos totalmente insossos. A ingestão constante (mais de duas vezes por semana) vai provocar respostas do organismo: ele vai querer mais e mais.
A gordura não é uma vilã. Ela representa um papel importante em nosso metabolismo e deve estar presente diariamente em nossas refeições.
É necessário, no entanto, limitar o consumo de gorduras saturadas (presentes nas carnes vermelhas, cortes mais escuros e a pele das aves, queijos – especialmente os amarelos – e frituras).
Nada disto está proibido para quem tem o peso ideal para a altura e não apresenta problemas de saúde ou alterações nos níveis de triglicerídeos e de colesterol. Quem está em situação de risco, porém, deve evitar estes alimentos.
O ideal é manter uma alimentação balanceada – e os que se desequilibraram raramente conseguem isto sem apoio médico. As já comentadas dietas superpoderosas servem, no máximo, para determinar o efeito sanfona (emagrecimento rápido em uma semana, ganho de peso imediato na semana seguinte). Cortes radicais na alimentação podem inclusive determinar a falta de nutrientes essenciais, provocando queda da imunidade, prejuízos de curto prazo à saúde e à energia necessária para o cumprimento das tarefas do dia a dia.
Como controlar o apetite?
É bastante comum, por falta de tempo, as pessoas pularem o café da manhã. Outras acreditam que, sem o desjejum, conseguirão perder alguns quilos. Ledo engano. Nós devemos fazer as três refeições principais (café da manhã, almoço e jantar), intercaladas com pequenos lanches, como frutas, iogurtes e barras de cereais.
Dormimos sete ou oito horas diariamente, período em que obviamente não ingerimos nada. Pela manhã, o corpo “grita” por comida. Ignorar este apelo apenas determina passar a manhã beliscando petiscos leves, como biscoitos, sucos industrializados, salgadinhos, e por aí vai.
Adotando as cinco refeições (e talvez um chá noturno, para quem dorme mais tarde), é possível controlar o apetite em pouco tempo. Os primeiros dias não serão fáceis, mas os resultados no médio prazo valerão a pena. A adoção de exercícios físicos, além de ajudar na redução do peso, é um substituto para aumentar o bem-estar: “mexer-se” também libera endorfinas – e este é um vício do bem.