Por diversas razões, uma região enfraquecida de qualquer das paredes das artérias que irrigam o cérebro (são os vasos que conduzem o sangue rico em oxigênio) pode dar origem a uma dilatação. A pressão normal do sangue acaba forçando a região menos resistente e provoca a formação de uma bexiga – o aneurisma cerebral –, cuja formação é bastante lenta.
Os maiores riscos desta condição clínica são a ruptura da artéria, com o consequente sangramento, e a compressão de outras áreas do cérebro, que pode comprometer seu funcionamento. A maioria dos casos de aneurisma cerebral é devida à fragilidade dos vasos e à tendência ao rompimento. Casos congênitos (devidos a problemas durante a gravidez) são bastante raros.
A prevalência
Estudos indicam que 5% da população mundial sofrem com este mal, mas apenas um pequeno número de indivíduos apresentam sintomas que prejudiquem a qualidade de vida. Estes números, porém, podem estar subestimados, já que muitos óbitos são creditados a outras enfermidades ou não têm as causas identificadas.
Os problemas costumam surgir a partir dos 50 anos, tornam-se mais comuns com o avanço da idade e afetam principalmente as mulheres, que respondem por 80% dos casos. Pesquisas atuais querem descobrir se há relação entre aneurisma cerebral e as alterações hormonais naturais femininas, mas já se sabe que os vasos das mulheres são mais frágeis e sinuosos e que os níveis decrescentes de estrogênio após a menopausa aumentam os riscos.
O aneurisma cerebral (também chamado de hemorragia cerebral e hemorragia subaracnóidea) é uma doença grave: um terço dos pacientes não sobrevive à ruptura e outro terço passa a ter de viver com sequelas bastante incapacitantes.
Aneurisma e cigarro
Especialistas da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo acompanharam 250 pacientes, atendidos em hospitais públicos do Estado, entre 2010 e 2011. 62% eram fumantes regulares quando apresentaram o problema.
O cigarro destrói uma proteína chamada elastina, que torna as paredes dos vasos mais frágeis. Os casos entre tabagistas também apresentam características mais agressivas (12% dos indivíduos não chegaram a tempo de receber cuidados médicos).
Além do fumo, outras condições contribuem para a formação e desenvolvimento de um aneurisma cerebral: hipertensão arterial, dependência de cocaína, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, ferimentos na cabeça e algumas infecções por fungos.
A classificação
Existem vários tipos de aneurismas cerebrais. Os mais comuns são os saculares (cujo tamanho atinge até 1 cm), os saculares gigantes (com mais de 2 cm) e os saculares múltiplos. Nestes últimos, mais raros, parece predominar a influência genética.
Os aneurismas fusiformes dificilmente provocam hemorragias. Eles tomam a forma de um balão e prejudicam as funções cerebrais. Entre as causas, estão a aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nos vasos, que prejudicam a circulação sanguínea), traumas e infecções que lesionem a parede de um vaso da região.
Os sintomas do aneurisma cerebral
Em muitos casos, o aneurisma cerebral é assintomático. Muitas pessoas podem conviver com a dilatação anormal por décadas sem suspeitar do problema. Nestas condições, a doença só pode ser identificada ser for feita uma investigação (uma tomografia computadorizada, por exemplo) para avaliar outro problema de saúde.
No entanto, o aneurisma pode lentamente empurrar outras estruturas do cérebro ou se romper, causando hemorragia. Mesmo que a condição seja leve ou moderada, podem surgir alguns sintomas, como fotofobia (insensibilidade à luz), dor nos olhos, visão dupla, perda da visão, náuseas e vômitos, dor de cabeça, dor ou rigidez no pescoço, confusão mental, perda de consciência e convulsões. O tipo e intensidade dos sinais dependem da região do cérebro que está sendo comprimida.
Uma dor de cabeça forte e súbita pode ser indicativa de que um aneurisma cerebral se rompeu. Nestes casos, é preciso procurar socorro médico, especialmente quando o paciente apresentar confusão mental ou sonolência, dificuldade em manter os olhos abertos, fraqueza muscular ou falta de mobilidade, dormência ou fala prejudicada.
O diagnóstico do aneurisma cerebral
Quase sempre, o paciente só procura um serviço de saúde quando o aneurisma cerebral já compromete áreas extensas do cérebro ou quando surge o sangramento. Um exame ocular pode identificar hipertensão intracraniana. A emergência fica estabelecida com um exame neurológico que revele sangramento na retina, movimentos anormais dos olhos, problemas na fala, na força e na sensibilidade.
O diagnóstico é firmado – e a região afetada, identificada – com exames de diagnóstico por imagens: tomografia computadorizada, ressonância magnética e angiografia cerebral. O tratamento quase sempre é cirúrgico.
Tratamento cirúrgico
A clipagem de aneurisma é a cirurgia convencional mais adotada em casos de sangramento. O procedimento consiste na abertura do crânio para a visualização da origem da hemorragia e a colocação de uma placa metálica para ocluí-lo, bloqueando a circulação na área afetada.
Nos casos de aterosclerose, especialmente na bifurcação da carótida (principal vaso que irriga o cérebro), a maioria dos casos é corrigida com a retirada dos ateromas e dos trombos, para permitir a livre circulação do sangue e impedir que novas placas se formem e migrem para outras áreas do cérebro.
Nos casos em que o paciente está muito debilitado para que possa se submeter a uma cirurgia, os médicos podem optar por repouso completo e ministração de medicamentos para reduzir a pressão arterial, evitar convulsões e controlar as dores de cabeça.
Prognóstico
Se o problema for identificado antes da ruptura da artéria, o paciente é instruído a tomar alguns cuidados, como não fumar nem utilizar outras drogas, limitar o consumo de cafeína (substância que eleva a pressão arterial) e adotar uma alimentação saudável, aliada a um programa leve de exercícios físicos.
Os sangramentos provocados pelo rompimento duram apenas alguns segundos, mas podem provocar danos às células cerebrais. Com o aumento da pressão intracraniana, o fluxo sanguíneo pode ser prejudicado ou mesmo impossibilitado. Isto determina perda de consciência e pode ser responsável pela morte do paciente.
Em outros casos, após a hemorragia, os vasos atingidos podem se contrair involuntariamente (condição conhecida como vasoespasmo), deixando de irrigar o cérebro. Nesta condição, o paciente pode sofrer um acidente vascular cerebral, acarretando outros danos, inclusive morte celular. A extensão do problema causa sequelas mais ou menos graves e também pode determinar a morte.