Hoje em dia, são raras as pessoas que não estão submetidas ao estresse: é preciso cumprir prazos, superar metas, destacar-se entre os colegas. Mesmo o trabalho doméstico está sujeito a problemas: a refeição a terminar, o filho a buscar na escola, a faxina, o passeio com o cão, etc. Em qualquer situação, a pressão parece nos acompanhar. A síndrome de burnout pode ser uma das consequências do ritmo em que vivemos.
Também chamado síndrome do esgotamento nervoso, o problema se caracteriza por um estado de tensão emocional e estresse que se torna crônico, determinado por condições desgastantes de trabalho, onde há envolvimento interpessoal direto e intenso. No médio prazo, surge um distúrbio depressivo, com sintomas no nível físico, emocional e psicológico.
Profissionais de educação, saúde, serviço social, recursos humanos, além de agentes prisionais, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam a dupla jornada de trabalho são especialmente suscetíveis à síndrome de burnout. Alguns estudantes concluintes do ensino médio e da graduação também podem sofrer com o problema, principalmente quando o nível de exigência familiar é muito alto, mas esta condição tende a se atenuar em pouco tempo.
A descrição
A síndrome de burnout (do verbo inglês “to burn out”, que significa “queimar por completo”) foi descrita nos anos 1970, pelo psicanalista alemão radicado em Nova York (EUA) Herbert Freudenberger, que inicialmente constatou o transtorno em si mesmo.
A dedicação excessiva à atividade profissional é talvez a característica mais visível da síndrome, mas não a única. O desejo de ser o melhor em seu campo de atuação, de obter destaque a partir de um desempenho excepcional é outra etapa importante: o portador mede a autoestima através da capacidade de realização no campo do trabalho.
A priori, não há nada de errado em perseguir o sucesso profissional. Os problemas têm início quando este se torna o único objetivo de vida, colocando os demais em segundo planos. Estudos, amigos, família, lazer e desenvolvimento cultural se tornam apenas acessórios.
Com isto, o que inicialmente era um prazer – o domínio pleno das atividades e o destaque em relação aos colegas (que podem inclusive levar a uma ascensão profissional extremamente rápida) – se transforma em dor. Ninguém consegue dominar plenamente todas as competências de uma carreira; em algum momento, haverá deficiências. Esta é uma das razões por que trabalhamos em equipe.
Em segundo lugar, o portador de burnout pode começar a ter necessidade de ser reconhecido mesmo nas tarefas mais rotineiras. Surgem então características de obstinação, que podem se assemelhar a um transtorno obsessivo-compulsivo. O paciente realmente sofre com esta necessidade de superação, exige demais do corpo e da mente.
A evolução
Pode-se identificar um burnout como alguém que sempre se coloca à prova, mesmo que não existam condições de competição à sua volta. A necessidade de autoafirmação permeia todas as suas atividades. É provável que haja deficiências orgânicas relacionadas ao quadro (por exemplo, anomalias na transmissão de neurotransmissores). O portador tem dificuldades de dividir as tarefas – e isto aumenta progressivamente.
Para cumprir as suas tarefas, o paciente deixa de fazer o intervalo para o almoço. Em seguida, começa a negligenciar outras necessidades pessoais, sair com amigos, cuidar da aparência e até dormir passam a perder a importância e o sentido.
Isto acende o “sinal amarelo” entre amigos e parentes. O paciente reage isolando-se e negando qualquer anomalia de conduta. Para não ser recriminado, afasta-se ao máximo do seu grupo e chega a inventar mais justificativas – um jovem recém-formado precisa completar os estudos; a mãe passa as noites acordada porque o bebê tem cólicas, dor de ouvido, etc.
Apenas um sintoma não é suficiente para identificar a síndrome de burnout. Apenas os mais íntimos conseguem identificar que “algo está errado”. Um empregador pode chegar a ficar impressionado com a dedicação demonstrada pelo novo funcionário. A família se orgulha da dedicação e “sacrifício” com que a família aceita as obrigações da maternidade.
Outros sinais são mudanças repentinas e evidentes de comportamento. O paciente deixa de aceitar brincadeiras comuns entre colegas, sem más intenções; progressivamente, passa a evitar os contatos pessoais e mesmo os telefonemas (sempre dá preferência ao envio de e-mails ou mensagens off-line). A despersonalização dá o tom destes contatos.
O jovem recém-contratado de nosso exemplo não granjeia novos amigos (nem mesmo para o bate-papo durante o cafezinho). Os colegas menos próximos se afastam, imaginando apenas que o “ex-amigo” ficou chato. Apenas os mais íntimos podem manter as preocupações e os cuidados, mas nem todos encontram este apoio, já que todos estão empenhados em levar adiante seus sonhos e necessidades.
Sem ajuda profissional, é difícil que o portador da síndrome consiga equacionar os seus problemas. Consegue perceber o vazio interior, a falta de objetivos além dos relacionados à vida profissional, mas não encontra formas de superação. O isolamento determina ainda mais dedicação ao trabalho. Sobrecarga e longas horas diárias no serviço determinam cansaço, indiferença e mais isolamento.
Isto não ocorre de um dia para outro. É necessário um período mais ou menos prolongado (que varia de acordo com as características do indivíduo), mas finalmente instala-se a síndrome de burnout, que corresponde a um colapso físico e mental. Apesar de os transtornos mentais serem quase sempre subestimados, negligenciados ou negados, uma vez que este estágio seja atingido, a ajuda médica e psicológica se torna urgente.
Os sintomas da síndrome de burnout
A síndrome de burnout não se caracteriza apenas pela fadiga e isolamento. Não existem características específicas, o que leva a muitos diagnósticos errados, mas o paciente pode sofrer com dores de cabeça, tonturas, tremores, problemas gastrointestinais (enjoos, vômitos e diarreias), dificuldade para respirar, oscilações repentinas de humor, insônia e dificuldade de concentração.
Em alguns pacientes, os sintomas físicos são prevalentes; em outros, os emocionais são mais evidentes. Pesquisadores do Instituto Superior de Tecnologia de Zurique (Suíça) já avaliaram mais de 130 sinais diferentes do esgotamento profissional.
A maioria dos diagnósticos errados leva a um tratamento de depressão. Um sinal importante de que o paciente é portador de burnout: o colapso ocorre, na maioria das vezes, depois de um período intenso de trabalho, sem intervalos adequados para descanso físico e mental.
A análise do histórico pessoal e profissional contribui para efetivar o diagnóstico correto.
O tratamento para a síndrome de burnout
A imensa maioria dos portadores da síndrome de burnout não dispensa o emprego de medicamentos para superar a fase aguda do transtorno. As drogas mais adotadas pelos médicos no tratamento (que pode demandar um longo prazo) são os antidepressivos, que ajudam a ultrapassar a sensação de incapacidade e de inferioridade.
A psicoterapia é fundamental para que o paciente consiga entender suas reais motivações e instrumentalizar-se para controlar a obstinação e recuperar a capacidade de relacionar normalmente. A metodologia mais empregada é a terapia comportamental cognitiva (que apresenta resultados positivos rapidamente), mas o apoio psicoterapêutico pode demandar um longo tempo.
Alguns pacientes recorrem ao alcoolismo ou ao uso de drogas ilícitas para atenuar (ou mascarar) o somatório de mal-estares que os acompanham diariamente. Nestes casos, estes distúrbios também precisam ser tratados.
A atividade física regular e exercícios de relaxamento e meditação ajudam a controlar os sintomas. O paciente precisa estabelecer uma nova rotina, bem mais adequada à melhora da qualidade de vida: boa alimentação, controle das horas de sono, cultivo de hobbies e retorno progressivo à vida social e ao convívio dos familiares.