“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. São palavras atribuídas a Jesus, constantes do Evangelho segundo João. A advertência é bastante semelhante ao “Conhece-te a ti mesmo”, um dos aforismas de Sócrates, filósofo grego do século V a.C. que, como Jesus, nada deixou escrito. A partir destes preceitos, o Espiritismo formulou a proposta da reforma íntima: a partir do autoconhecimento, que é uma conquista gradual do ser humano, parte-se para a autotransformação, com o reconhecimento dos defeitos e vícios de caráter.
Mas esta não é uma tarefa fácil. O Espiritismo é uma doutrina que deve ser vivenciada. A simples frequência a um centro, e mesmo a dedicação de várias horas semanais às atividades espirituais – passes, palestras, orientações – não são atitudes suficientes para a melhoria do ser. O Espiritismo não é uma doutrina salvacionista, em que a redenção é obtida através de ritos e práticas externas.
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Aliás, para os espíritas, não existe “salvação”, nem “danação”. Todos os indivíduos, ao final de um período mais ou menos longo, conquistarão a felicidade plena. A reforma íntima funciona como um “acelerador” deste processo. Não existem, para a Doutrina, castigos eternos para erros transitórios.
As dificuldades práticas
Outra lição evangélica é: “Não julgueis, se não quiserdes ser julgados” (Mateus). Entretanto, somos pródigos em julgar as faltas dos outros, apontando inadequações, defeitos e até crimes. Por outro lado, quando se trata de fazer uma autoavaliação, temos justificativas imediatas para todas as nossas faltas.
Explosões de raiva são explicadas pela conduta do outro: “gritei, porque ele me tirou do sério”. Além disso, desenvolvemos estranhos conceitos, como o de perdão: “perdoo, mas nunca mais vou falar com ele”; “perdoo, mas não quero vê-lo nem pintado”. São interpretações estranhas ao Evangelho.
Em “O Livro dos Espíritos”, organizado pelo pedagogo francês Allan Kardec, Santo Agostinho ensina: “ao fim de cada dia, interrogava minha consciência, passava em revista o que havia feito e perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento de algum dever, se ninguém teria motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma”.
Além deste conselho, é preciso ampliar os conceitos do Sermão da Montanha: cumprimentar quem não te cumprimenta, sorrir para quem fecha a cara, ajudar a quem nega a cooperação. Atitudes simples do cotidiano podem nos levar a condutas mais saudáveis: cumprimentar os parentes, os vizinhos no elevador, o porteiro, ser tolerante com os impacientes, não se irritar com situações que não podem ser alteradas, como o trânsito das grandes cidades.
São pequenas chaves para promover a reforma íntima e viver mais feliz.