Há registros de execuções da dança do ventre no Egito, Mesopotâmia, Pérsia e Índia desde a invenção da escrita, cerca de cinco mil anos antes da Era Cristã. Alguns historiadores, no entanto, baseados em ilustrações em cerâmica, acreditam que ela seja ainda mais antiga. A famosa dança já seria praticada há nove mil anos.
O objetivo original da dança do ventre, com seus movimentos sinuosos que lembram os de uma serpente, parece estar envolvido com rituais religiosos, dedicados às deusas da fertilidade. Movimentando tórax, abdômen e quadris, as mulheres se preparavam para a maternidade. A dança se popularizou por todo o Mediterrâneo, com a ampliação dos domínios árabes – que se espalharam pela península Ibérica, alguns territórios da Itália, todo o norte africano, o Oriente Médio, a Turquia, a Mesopotâmia e o atual Irã.
No entanto, a expressão dança do ventre é relativamente recente. O termo surgiu na França, no final do século XIX. Antes disto, era conhecida como dança do leste ou dança da região. Os movimentos, vibrações, impactos e rotações, que nascem no tronco e se espalham pelos membros e a cabeça, ganhou uma conotação sensual, motivo por que a dança acabou sendo proibida em alguns países muçulmanos fundamentalistas. Mesmo assim, ela é apresentada em alguns hotéis, especialmente os que recebem turistas estrangeiros.
É possível que as ondulações abdominais tenham sido introduzidas para ensinar às mulheres sobre as contrações do parto. Estes movimentos já eram praticados no Egito antigo, mas a dança egípcia registrada em papiros era mais vigorosa, inclusive usando técnicas de acrobacia. A origem da dança do ventre está relacionada ao culto à grande mãe, a deusa primordial, ainda nas sociedades matriarcais, antes do desenvolvimento do politeísmo.
Enquanto a maternidade é um fato – todos veem a barriga se avolumando, até o nascimento do bebê –. a paternidade é um conhecimento obtido posteriormente. É muito provável que nossos ancestrais só reconhecessem a maternidade, atribuída a movimentos mágicos do abdômen e da pélvis, danças e alterações do ritmo cardíaco. Esta é a razão por que a dança do ventre – ou ao menos alguns de seus passos – sejam encontrados em diversas civilizações antigas.
O primeiro contato do Ocidente com a dança do ventre ocorreu no final do século XVIII, quando o general (e depois imperador) francês Napoleão Bonaparte invadiu o Egito. Curiosamente, a dança não foi bem vista pelos conquistadores, que a consideraram lasciva e promíscua. Cerca de 400 mulheres foram decapitadas por causa da prática. Este fato provocou a fuga de muitas dançarinas para países europeus.
Napoleão foi derrotado pelos ingleses, que ocuparam diversos territórios do norte da África e do Oriente Médio (eles só devolveram a autonomia de algumas regiões após o fim da Segunda Guerra Mundial), e os britânicos eram ainda mais recatados que os franceses.
Mas o valor artístico da dança do ventre prevaleceu. Na Europa, a primeira grande apresentação ocorreu em Paris, durante a primeira Exposição Mundial, realizada em 1889, quando um grupo de artistas de rua da Argélia foi levado para se apresentar na mostra. A manifestação artística caiu no gosto popular.
A dança
Com o tempo, a dança do ventre perdeu seus atributos mágicos e religiosos. Hoje, ela é praticada como exercício físico e também como uma manifestação artística, sempre preservando os aspectos culturais, especialmente as características árabes. A técnica sofreu influência não apenas nos países orientais, mas também do Ocidente, onde inclusive foi profissionalizada: enquanto o ensino original era uma tradição familiar, transmitida de mãe para filha, atualmente existem escolas especializadas e bailarinas que se apresentam em diversos eventos.
Os movimentos originais eram espontâneos, realizados de acordo com a criatividade e os sentimentos despertados no momento da execução da dança do ventre. Hoje, ela é coreografada, apesar de a improvisação ainda ser um elemento bastante forte.
Da Europa, a dança do ventre chegou à América, praticamente na mesma época em que vieram as primeiras levas de imigrantes árabes (a partir de 1880). No Brasil, ela é relativamente popular, inclusive praticada em academias, com objetivos estéticos. Uma novela nos anos 1990, “O Clone”, de Glória Peres, ambientada em Marrocos, que mostrava os aspectos culturais e artísticos do país, deu um grande impulso à prática no país.