Com a morte de Pelé, surgiu a curiosidade sobre cemitérios verticais. Como eles funcionam?
As notícias sobre a morte de Pelé, no final de 2022, mobilizaram as atenções de fãs no mundo inteiro. O jogador perdeu uma longa batalha contra um câncer de cólon. Logo chegaram informações de que o atleta seria sepultado em um cemitério vertical em Santos (SP), cidade onde jogou (no time homônimo) de 1956 a 1974. Mas, como funciona um cemitério vertical?
A morte de Edson Arantes do Nascimento, aos 82 anos, em 30.12.22, provocou uma comoção nacional e internacional. Nada mais natural: Pelé foi um jogador tão prodigioso que, em 1999, recebeu o título de “Atleta do Século”, concedido pelo Comitê Olímpico Internacional, em votação da qual participaram presidentes de comitês olímpicos nacionais de 200 países.
O cemitério vertical
O Memorial de Santos, que recebeu o corpo de Pelé, foi o primeiro cemitério vertical da América Latina. O jogador havia escolhido o local para receber os restos mortais de 20 anos – ele adquiriu um jazigo no nono andar (com vista para a Vila Belmiro), mas, em comum acordo entre a família e a direção do cemitério, foi construída uma ala especial para o atleta.
Ainda está em discussão se o espaço será aberto à visitação pública, mas Pelé não foi inumado em um jazigo comum justamente em função da repercussão. A Memorial Necrópole Ecumênica começou a ser construída em 1983 e foi inaugurada em 1991.
A necrópole está instalada em um edifício de 14 andares, que foi projetado para permitir ampliações: a administração prevê a construção de novos pavimentos e o espaço pode chegar a 30 andares, em uma altura total de 108 metros.
O cemitério fica a 1 km de distância do Estádio da Vila Belmira, onde o Santos F.C. é o mandante em jogos de campeonatos estaduais e nacionais, e que recebeu mais de 230 mil pessoas, que compareceram para as últimas homenagens a Pelé.
Apesar de guardar sepulturas há mais de 30 anos, a ideia de cemitério vertical ainda é novidade para muitas pessoas. A maioria ainda encara as cerimônias de sepultamento de forma tradicional, com o caixão sendo enterrado no chão.
Mesmo assim, não se trata de uma “prateleira para caixões”. Os familiares contam com espaço exclusivo para homenagens e visitas, que pode ser mais amplo (como é o caso dos mausoléus) ou mais discreto (os lóculos).
O cemitério vertical também mantém espaços para guardar as cinzas, no caso de o corpo ter sido cremado, ou dos ossos exumados, depois de cumprido o período legal de inumação (de três anos) em um cemitério tradicional.
Tanto nos mausoléus, quanto nos lóculos, os corpos são mantidos em câmaras lacradas, onde ocorre a decomposição. São estas câmaras que vedam os cadáveres e impedem a atração de insetos; por isso, não há mau cheiro nas instalações, mesmo com o movimento natural de muitos sepultamentos diários.
Eventuais líquidos gerados pelo processo de decomposição são recolhidos por uma instalação hidráulica especial e descartados adequadamente. De acordo com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), mesmo nos cemitérios tradicionais, é necessária a instalação desses tubos, para não haver contaminação do solo.
Em geral, no entanto, os cemitérios tradicionais são considerados áreas de risco, porque estas instalações afetam as condições naturais do solo e das águas subterrâneas: algumas substâncias presentes no corpo humano, além dos diferentes acessórios e equipamentos usados nos enterros, podem comprometer seriamente a região.
No caso dos cemitérios verticais, os encanamentos recolhem principalmente uma substância conhecida como necrochorume, um líquido de aparência viscosa e tons castanho-acinzentados, compostos por água, sais minerais e compostos orgânicos degradáveis.
Quando é dispensado diretamente na terra, especialmente em áreas com alta umidade, este chorume acelera o processo de saponificação, decorrente da quebra das gorduras corporais e a liberação de ácidos graxos. O problema é mais crítico com o uso de caixões metálicos.
O cemitério vertical pode ser a solução para a degradação do solo, especialmente nas grandes cidades, e também para o controle da proliferação dos animais decompositores. Apesar de prestarem um excelente serviço na natureza, eliminando restos orgânicos de forma rápida, estas formas de vida, em espaços urbanos, podem servir como vetores de doenças.
As instalações
De acordo com o Guinness Book of Records, o Memorial de Santos é o cemitério mais alto do mundo. O cemitério vertical foi erguido em uma área total de 40 mil metros quadrados – e 90% do espaço com a cobertura vegetal nativa preservada.
A ideia original do cemitério vertical procurou resolver dois problemas básicos: a falta de espaço, na cidade, para as necrópoles tradicionais, e a frequente realização de sepultamentos em meio ao barro e à lama, por causa dos lençóis freáticos que ocupam o subsolo de Santos.
As cerimônias, portanto, são idênticas às realizadas em cemitérios tradicionais. As famílias que contratam os serviços de um cemitério vertical podem convidar religiosos para os ofícios de despedida, receber os amigos e visitar regularmente o local.
O Memorial é também o primeiro crematório construído pela iniciativa privada no Brasil – e o único na Baixada Santista. A estrutura dispõe de 18 mil lóculos, salas de velório com instalações de repouso, espaços dedicados ao depósito de cinzas e ossos, além de mausoléus e estrutura de atendimento (estacionamento, restaurante, capelas, etc.).
Os lóculos, encaixados de forma vertical nas paredes do cemitério, podem ser unitários, duplos ou múltiplos, de acordo com as necessidades de cada família, e podem receber flores e outras homenagens. O Memorial também oferece mausoléus (como ocorreu no caso de Pelé), para quem deseja que os sepultamentos sejam realizados de maneira mais pessoal.