Pesquisadores do Museu de História Cultural de Oslo, capital da Noruega encontraram um artefato surpreendente durante escavações no vilarejo de Langeid, no sudoeste do país. Em uma tumba, um guerreiro foi enterrado com suas armas – entre elas, a misteriosa espada viking.
O fato de soldados e oficiais serem enterrados da maneira como se apresentavam nas batalhas não é incomum. Diversas culturas ao redor do mundo desenvolveram este costume – e os motivos variam da simples homenagem à necessidade de vender inimigos antes de conquistar o Paraíso (no caso em questão, o Valhala).
O que intriga os estudiosos é a forma de manufatura da espada viking: encontrada em 2011 (e exposta ao público apenas em julho de 2015), a arma é considerada única. Ela possui detalhes em ouro, inscrições em latim e símbolos cristãos. Os cientistas sabiam que encontrariam objetos interessantes, que poderiam “contar” um pouco mais da história nórdica, mas a espada foi um prêmio extra – e também um grande mistério.
As escavações
Mesmo antes da abertura do túmulo, os arqueólogos já estavam intrigados. A sepultura era grande demais para os padrões da época (por volta do início do século X). mais de 20 outras tumbas foram encontradas em Langeid, todas elas muito menores e com padrões similares de sepultamento.
A grande sepultura também apresenta nichos nas quatro arestas, provavelmente para a aposição de tochas ou para uma cobertura, fato que aparentemente demonstra que o soldado ali enterrado era ilustre, seja pela posição na sociedade, seja pelo desempenho nos combates.
Os primeiros itens encontrados no sítio arqueológico foram fragmentos de moedas. Um deles foi cunhado durante o reinado de Etereldo II da Inglaterra (978-1016), que, entre outras insanidades, ordenou o massacre de comunidades vikings estabelecidas na costa inglesa.
A segunda moeda é da Era Viking alemã, último período dos vikings piratas, com o estabelecimento dos reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia (na verdade, a pirataria foi apenas substituída por expedições militares reais).
Trata-se de um período de decadência: as rotas comerciais do Mediterrâneo haviam sido reabertas (juntamente com o transporte de soldados para lutar nas Cruzadas) e, desta forma, o mar do Norte perdeu importância econômica.
A espada viking
Além da espada viking, as escavações trouxeram de volta à luz um machado de guerra de dimensões incomuns. Nesta peça, não há aplicação de metais preciosos; no entanto, ele foi feito com uma liga de cobre e é muito provável que brilhasse tanto quanto a empunhadura da espada, quando exposto ao Sol.
O uso do cobre é raro entre os vikings, especialmente quando revestido com latão, mas uma escavação junto ao rio Tâmisa (Inglaterra) encontrou diversos itens semelhantes ao “tesouro de Langeid”. Terá sido ele fruto de pilhagem?
Ainda não se sabe – e talvez nunca seja possível decifrar este mistério – se o guerreiro foi enterrado com estas armas para que pudesse se proteger ou apenas como uma demonstração de poder. Talvez o mistério tenha “ido para o túmulo”.
A datação de carbono revelou que a espada foi produzida em período semelhante ao da cunhagem das duas moedas – por volta de 1030. A arma tem 94 centímetros de comprimento. A lâmina de ferro está enferrujada pelo tempo, mas a empunhadura resistiu e está bem preservada. O pomo (a parte que o guerreiro segura com a mão) foi feito com uma liga de cobre e toda a empunhadura é envolvida com fios de prata e detalhes de ouro.
Os fios de prata formam espirais. A espada viking é decorada com letras e ornamentos em forma de cruz. As palavras provavelmente foram escritas provavelmente em latim, mas o significado ainda não foi decifrado.
No topo do pomo, figura a imagem de uma mão empunhando uma espada ou cruz, fato único, até o presente momento, na cutelaria (fabricação de facas e espadas) viking. As letras e cruzes indicam que a arma foi decorada com símbolos cristãos. A cristianização da Inglaterra ocorreu entre os séculos VI e X. A Escandinávia e as tribos germânicas do norte, porém, só receberam missionários católicos permanentemente no século XII.
O mistério da espada viking
A grande questão a ser resolvida pelos cientistas é: como uma espada tão preciosa, repleta de símbolos de uma religião desconhecida, foi parar em um cemitério da Noruega, então dedicada a outros cultos? O design da arma indica que ela foi trazida de outra região – por um homem poderoso e rico, ou como parte do butim de uma batalha em que os noruegueses saíram vitoriosos.
O ouro, raramente encontrado em artefatos do período viking, era um símbolo de poder. Nos contos da mitologia escandinava, é comum atribuir a arte de criação das espadas mágicas e invencíveis a seres míticos, como anões que moravam em regiões subterrâneas, cujo ofício incluía a ornamentação das espadas e escudos com runas, letras do alfabeto nórdico.
Espadas, escudos e lanças, assim como as armaduras, durante a Idade Média, eram o equivalente masculino das joias usadas para o embelezamento das mulheres. Contudo, com o desenvolvimento das armas de fogo, a partir do século XIV, as armas brancas perderam status.
As lendas demonstram que a arte da forja era um conhecimento limitado entre os povos que habitaram as regiões das atuais Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e norte da Alemanha. Esta carência de especialistas conferiu uma aura mágica à produção de espadas.
Durante muito tempo, na Europa, os mestres especializados em diversos ofícios ocultaram as suas técnicas da maioria dos “leigos”.
Tornar-se aprendiz de um ferreiro, construtor, padeiro e até mesmo de um alfaiate ou sapateiro, especialmente na baixa Idade Média, era uma honra não apenas para o jovem, mas para a sua família e, às vezes, para toda a aldeia.