A invenção de cerveja remonta há milhares de séculos. Na Mesopotâmia (atual Iraque), já se fabricava a bebida fermentada em cerca de 6000 a.C., no final do período Neolítica, a última fase da Idade da Pedra. Foi preservada uma imagem insculpida na qual se veem pães e um grupo de pessoas bebendo numa tigela comunitária. As primeiras cervejas foram produzidas a partir de pães de cevada fermentados.
Entre os sumérios, primeira civilização da Mesopotâmia e talvez a mais antiga do mundo, havia até uma divindade apenas para a bebida: a deusa Ninkasi, responsável por derramar a cerveja filtrada no barril, de acordo com versos preservados desta antiga cultura.
A cerveja também já era produzida antes da unificação do Egito (a união dos reinos do alto e baixo Nilo). Neste império, a boa educação exigia que ninguém saísse de uma festa, regada a cerveja, sem ter se embebedado e vomitado ao menos uma vez. As festas egípcias – aniversários, casamentos, etc. – sempre duravam mais de um dia.
Além das fábricas, havia a produção artesanal. Todas as famílias de baixa renda produziam cerveja para consumo próprio, além de comprá-la nas cervejarias e obtê-la como parte do salário nas muitas construções, várias delas colossais, edificadas pelos antigos egípcios.
No Egito, a cerveja era a opção para quem não podia comprar vinho. Apesar disto, Ramsés III ficou conhecido como o faraó cervejeiro, por ter doado cerca de um milhão de litros da bebida aos sacerdotes de Amon.
O famoso Código de Hamurábi, conjunto de normas civis e penais escrito no século XIX a.C., estabelecia normas para a produção da bebida e determinava a pena de morte para quem não as observasse. Já impunha leis para a comercialização, estabelecia direitos e deveres para os clientes das tavernas e definia rações diárias: dois litros para os camponeses, três para os funcionários públicos e cinco para os administradores e o sumo-sacerdote.
O valor nutricional das bebidas fermentadas explica a popularidade da cerveja. Para os povos antigos – e incluem-se aí os indianos, chineses e os ibéricos e nórdicos da Europa –, a cerveja era um alimento, consumido inclusive por crianças. Os antigos não conheciam a adolescência: jovens de 13 ou 14 anos já se casavam e continuavam a tradição de beber a “loura gelada”, que na época não era loura, nem gelada.
A coloração era mais castanha, não havia meios de refrigerá-la e os sistemas de filtragem deixavam a desejar: as cascas de cevada, malte, trigo e outros grãos usados na fabricação eram ingeridas juntamente com a bebida, o que explica seu valor nutricional. Os cereais beneficiados que consumimos hoje, como o arroz branco, perdem a maior parte de seus sais minerais e vitaminas.
A cerveja no Ocidente
A bebida não fez muito sucesso entre os gregos, que preferiam o vinho e um destilado de azeitonas. Com a expansão do Império Romano, os latinos travaram contato com a cerveja produzida pelos celtas e popularizam-na nas suas colônias – praticamente, toda a região banhada pelo mar Mediterrâneo. Mesmo com todo este sucesso, a cerveja era considerada uma bebida de bárbaros.
Na Idade Média, muitos mosteiros católicos produziram a bebida, usando ervas para aromatizá-la, como o manjericão e o rosmarinho. O lúpulo, que confere o gosto amargo à cerveja, foi introduzido entre os anos 700 e 800 por monges da atual Suíça. Entre os vikings, que habitaram a Escandinávia, as famílias tinham a “vara da cerveja”, usada para agitar a bebida durante a fermentação, que era transmitida de pai para filho.
No começo do século XVI, as cidades germânicas (que dariam origem à Alemanha) estabeleceram leis que determinavam os únicos produtos para a produção da cerveja: malte, lúpulo e água. Eram as cervejas ale. As lagers foram produzidas por acidente, quando foram estocadas cervejas ale em cavernas frias e úmidas. As “estupidamente geladas” começaram a fazer sucesso.
Entre os ingleses do início da Idade Moderna, entretanto, era proibido acrescentar lúpulo durante a fermentação, mas eles tiveram que se render à erva: a produção nacional se estragava por falta de consumo, enquanto as ale importadas da Flandres (Holanda) estavam em todas as mesas, inclusive as do palácio real.
A cerveja na atualidade
Hoje, a cerveja se popularizou no mundo todo. É a terceira bebida mais consumida, atrás apenas da água e do chá. além da amarelas, as mais procuradas, existem opções escuras, doces e vermelhas, ideais para o consumo nos dias frios.
A cerveja tornou-se uma bebida nobre, com bebidas fermentadas à base de trigo alcançando altos valores no mercado, sem perder seu caráter popular. Há cursos para quem quer fabricar sua própria bebida em casa e o consumo não para de crescer, especialmente em tempos de estabilidade econômica e aumento do emprego.
Só resta insistir: é preciso beber com moderação e, em caso de o consumo ultrapassar uma latinha, não assumir o volante de um veículo. A ingestão de 300ml de cerveja diariamente, quando não há contraindicação médica, é saudável e garante os níveis de silício no organismo, sal essencial para a saúde de ossos e dentes.
Quanto ao mais, saúde!