A seguinte pergunta: as baleias são dotadas de inteligência? É algo que vem intrigando zoólogos e etólogos de diversas partes do mundo. A ideia de que o homem é o único ser racional habitando a Terra já não farte da linguagem científica: além das baleias e de seus parentes próximos, os cetáceos (golfinhos e orcas), os antropoides (gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos) estão entre os animais que demonstram algo grau de inteligência.
As baleias estão classificadas em duas subordens: desdentadas (subordem “Mysticeti”), caracterizadas pelas cerdas bucais, estruturas localizadas na parte superior da boca que permitem filtrar o plâncton da água marinha, e com dentes (subordem “Odontoceti”), que caçam peixes e lulas.
Em comum, todas as baleias apresentam fortes sinais de inteligência: elas conseguem se comunicar para mostrar um cardume, chamar os filhotes para mamar, definir os roteiros de viagem, prevenir contra um perigo iminente, etc.
Por definição, cultura é a capacidade de um ser de aprender novas estratégias de sobrevivência e conseguir transmitir estas mesmas estratégias para outros indivíduos da espécie. As baleias, no entanto, não sobrevivem apenas: elas namoram e reúnem-se para “trocar ideias” sobre a caça.
A observação permite identificar não apenas sinais evidentes de inteligência, mas a capacidade de demonstrar amor, cuidado e proteção. Os animais se auxiliam mutuamente e talvez seja este o principalmente motivo de ainda não terem sido extintos.
Uma habilidade notável deste último grupo é a capacidade de localizar as suas presas por ecolocalização (a capacidade de identificar os cardumes através de complexas vocalizações, que reverberam na água através de ondas sonoras).
A baleia-azul
A rainha dos mares, a baleia-azul, atinge 30 metros de comprimento e mais de 180 toneladas de peso, é um grupo de espécies sem dentes. Mesmo com todos com todo este tamanho, alimenta-se apenas de plânctons, grupo formado pelos fitoplânctons (algas microscópicas), ictioplânctons (formas larvares ou juvenis de néctons, animais que se movem livremente pela coluna marinha, sendo levados livremente pelas correntes) e zooplânctons (organismos do Reino Protista).
Estas baleias – também conhecidas como gigantes gentis – passam a vida percorrendo os mares. Até o início do século XX, elas eram abundantes em todos os mares do planeta. Caçadas sem nenhum controle durante mais de um século, porém, elas quase foram extintas pela ação dos baleeiros. Os primeiros mecanismos de proteção internacional só foram adotados em 1996, mas são muitas vezes desrespeitados.
As baleias-azuis vivem em grandes famílias, com animais adultos, jovens e filhotes. Um macho se torna o alfa do grupo, determinando as rotas a serem seguidas. Todos os adultos participam da “educação” dos filhotes, que aprendem a aproveitar as correntes marítimas para obter seu alimento e também a escapar de certos perigos, como encalhar em uma praia.
No entanto, o efeito estufa está provocando o aquecimento dos mares e também muita desorientação para estes animais gigantescos. A forte iluminação das grandes cidades litorâneas também com que as baleias acabem quase sempre morrendo quando se desviam das rotas.
As caçadas de baleias
A humanidade já caça baleias há pelo menos quatro mil anos, como provam escavações realizadas na Noruega, onde foram encontrados arpões rudimentares acoplados a canoas. No século XII, espanhóis e franceses aventuravam-se pelo mar Mediterrâneo em busca destes cetáceos, em função da grande quantidade de carne oferecida. É possível que, na Pré-História, grupos humanos se alimentassem de baleias encalhadas na costa.
Por serem animais gigantescos, eles ocupam o topo da pirâmide alimentar. Alguns são vorazes, como as orcas (que não são baleias, nem assassinas), que devoram muitas tartarugas marinhas, focas, peixes, lulas, polvos e até cachalotes. As técnicas de caça e de defesa são transmitidas para os filhotes e jovens. Os bebês mamam por cerca de dois anos.
Elas não estão assassinando ninguém, apenas mantendo a população das espécies sob controle. As orcas são delfinídeos, “primas” dos golfinhos e botos. Também vivem em famílias e alcançam a maturidade aos 15 anos de idade.
Entre os séculos XIII e XIV, os seres humanos descobriram outra “utilidade” para as baleias: o óleo extraído delas serviu para acender milhares de lamparinas e lampiões. Em 1868, foi inventado o arpão a explosão (lançado a partir de um canhão) e a vida das elegantes e inteligentes baleias passou a conhecer muitas dificuldades.
Ao todo, estão classificadas 40 espécies de baleias (além dos outros cetáceos), mas este número não está definido: recentemente, pesquisadores japoneses acreditam ter identificado uma nova espécie, aparentada com a baleia-fin e constaram que a baleia-de-bryde pode ser dividida em duas espécies.
O cachalote – o mesmo que engoliu Pinóquio e seu pai adotivo, Gepeto – é o maior dos cetáceos com dentes. Ele mede até 25 metros de comprimento e sua grande cabeça e marcada por uma membrana de cor leitosa. Graças à sua presença na literatura e no cinema (ele também é o protagonista de “Moby Dick”, de Herman Melville), este mamífero se tornou uma espécie de estereótipo das baleias.
A migração
As baleias migram constantemente em busca de alimento. A maior rota migratória já documentada é a da baleia-cinzenta, que se reproduz durante o inverno na costa ocidental do México e passa o verão no mar de Behring, no Círculo Polar Ártico, em uma jornada de mais de 20 mil quilômetros. Nos locais de reprodução, os machos adotam postura de vigilância, escolta e defesa das fêmeas grávidas, nutrizes e também dos bebês.
Os caçadores antigos a chamavam de peixe-diabo, em função da extrema violência com que os adultos, que podem atingir até 14 metros, reagem para defender os seus filhotes.
Aparentemente, as baleias-minke dividiram o planeta em dois territórios; cada uma delas percorre os mares de um hemisfério da Terra (norte e sul). É possível que se trate de duas espécies aparentadas. Elas conseguem permanecer submersas por até 20 minutos. Sem dentes, elas capturam crustáceos com as cerdas bucais.
A baleia-de-bryde, que atinge 15 metros de comprimento, não é muito chegada a viagens. Ela passa o ano todo em águas tropicais e subtropicais. Seu nome chega a ser uma ironia: ela foi batizada com o sobrenome de Johan Bryde, construtor do primeiro porto baleeiro da África do Sul, em 1908.
Apesar de ter desenvolvido tantas habilidades, a comunidade científica não é unânime em declarar a inteligência das baleias. Mesmo com conclusões surpreendentes, como o fato de elas terem a parte frontal do cérebro, que, no homem está relacionada ao pensamento, ainda serão necessários muitos estudos.
Existem questões econômicas envolvidas: o Japão, por exemplo, anunciou em 2005 que voltaria a caçar baleias. O Tribunal de Justiça da ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que os japoneses já mataram 3.600 baleias-minke, muitas delas em águas internacionais.
A Islândia é outro país responsável pela caça excessiva. Em 1986, a nação retirou-se da IWC (Organização Baleeira Internacional), quando o organismo decretou uma moratória à caça comercial.
Em 2006, a Islândia abandonou a justificativa de pesquisas científicas e declarou abertamente o estabelecimento de cotas anuais. O Brasil ratificou o tratado proposto pela IWC e não possui iniciativas de caça comercial às baleias.