Para os judeus – e para as religiões que adotam o Antigo Testamento como texto sagrado – o universo foi criado há 5.775 anos. Para a crença iorubá, o mundo tomou forma quando Olorum determinou a separação do Orun (espaço dos espíritos) e do Aiyê (espaço dos humanos).
Para os chineses, o Dao (o infinito) chocou um ovo por 18 mil anos, do qual nasceram o yin (mais pesado, que gerou a terra), o yang (que formou o céu) e Panku, o primeiro ser vivo, criador de todas as espécies vivas (que sustentou o céu com seus braços, para impedir que céu e terra se unificassem).
Para a ciência, porém, o universo surgiu há 13,7 bilhões de anos, com o Big Bang (a grande explosão, uma expansão de matéria e energia).
Há cerca de 4,66 bilhões de anos, nosso Sistema Solar era apenas uma nuvem de gás e poeira, da qual surgiram o Sol, planetas, planetas-anões, satélites, meteoros e cometas.
A Terra tem origem em uma provável força gravitacional, que solidificou materiais pré-existentes há 4,5 bilhões de anos. Mas estes números são quase indecifráveis: como seria a história do mundo convertida em apenas um dia?
Encurtando a história
No primeiro segundo do dia, acontece o Big Bang: uma grande explosão (que criou o espaço e o tempo) arremessa os primeiros elementos, à velocidade da luz, a milhões de quilômetros de distância. no exato momento da explosão, o universo é muito quente e tem um tamanho milimétrico: apenas um Planck, ou 1,616199 x 10-35 metros.
As forças fundamentais perdem o equilíbrio, ganham aceleração, expandem-se em grandes regiões e acabam se separando. Estão formadas as partículas subatômicas e o eletromagnetismo.
Ao completar um minuto de vida, o universo continua extremamente quente e poderia ser comparado a um oceano de partículas subatômicas, como quarks e glúons. Nesse instante, porém, surgiu uma alteração substancial: finalmente, prótons, nêutrons e elétrons entraram na história. Os elementos mais simples, hidrogênio e hélio (respectivamente, com um e dois elétrons orbitando o núcleo). A luz avança pelo universo, clareando a neblina escura.
Aos 21 minutos, as primeiras estrelas começam a brilhar no universo, possibilitando a sintetização de elementos mais pesados. Nove minutos depois, está formada a Via Láctea (que, num tempo bastante remoto, abrigará nosso Sol, a Terra e todos os seres vivos que conhecemos; originalmente, a Via Láctea foi um imenso buraco negro). O universo já ostenta bilhões de estrelas, nebulosas e muita poeira cósmica.
Uma grande lacuna
O universo continuou se expandindo e resfriando, sem grandes novidade. No meio da tarde, no entanto, surge uma grande notícia: o braço de Órion (um dos braços da Via Láctea) começa a se desenvolver rapidamente, formando sete nebulosas (nuvens de hidrogênio, hélio, poeira e plasma) e 18 aglomerados cósmicos (grupos de estrelas ainda em afastamento).
Em um dos segmentos do braço de Órion, surge o nosso Sol, distante oito mil parsecs (26 mil anos-luz) do centro da galáxia. Às 15h49min, alguns elementos gerados na formação deste braço são capturados pelas estrelas e organizados em função da força gravitacional, gerando blocos cada vez maiores, na medida em que se resfriam: são os planetas e satélites naturais. Nosso Sistema Solar deu início à aventura através do universo
Com dez bilhões de anos (em nosso dia, exatamente às 17h31min12s), os quatro planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) estão criados e organizados em suas órbitas. Havia um quinto planeta semelhante, mas, com a posterior formação dos planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), ele se fragmentou em função da força gravitacional de Júpiter, dando origem aos asteroides, astros de formato irregular e sem órbita definida que, por vezes, se chocam contra os planetas.
No início da noite, às 18h, a Terra (o maior dos planetas rochosos do Sistema Solar) é um imenso fogareiro, com temperaturas extremamente altas. O núcleo é composto essencialmente por ferro e a gravidade do planeta começa a atrair algumas substâncias, como metano, vapor d’água e amônia. A radiação solar provoca transformações químicas, que liberam gás oxigênio (O2), espalhado em uma fina camada por toda a superfície: a atmosfera estava sendo criada.
Às 19h16min, constantemente bombardeada por asteroides e cometas, fato que causa intensas erupções vulcânicas. Em resultado, a atmosfera absorveu substâncias como o gás nitrogênio (N2) e dióxido de carbono (CO2), além de muito vapor d’água. impedido de se lançar para o universo, o vapor se condensa: a água afinal surge no planeta.
Nesta água, surgem as primeiras formas de vida: bactérias anaeróbicas, que absorvem CO2 como combustível das suas necessidades orgânicas. Estes microrganismos ancestrais já foram extintos, uma vez que a exposição ao oxigênio é nociva para eles.
No entanto, eles prestaram um grande serviço para os seres vivos mais complexos: ao retirarem boa parte do CO2, as bactérias permitiram a atual composição da atmosfera, com 78% de N2 e 21% de O2. A maioria dos animais, vegetais e fungos necessita da O2, mas, em excesso, ele impossibilitaria a vida, por causa das combustões naturais muito frequentes. O N2 é fundamental para a fotossíntese, “tarefa” a cargo das plantas e bactérias.
Por volta das 20h39min, as águas reduziram o ritmo frenético de evaporações e precipitações. Um grande oceano está formado, circundando o continente primitivo: a Pangeia. Com a intensa liberação de oxigênio, que reage constantemente com o ferro, até se estabilizar. Quando o O2 ocupa 10% da atmosfera, surge o ozônio (O3).
Os primatas
Durante 200 milhões de ano, os grandes dinossauros permaneceram no topo da cadeia alimentar, até que um colapso terrível provocou a extinção dos “lagartos terríveis”: às 23h33min, um grande meteoro cai na península de Yucatán (México) e levanta uma imensa nuvem de poeira que impede a chegada dos raios solares à superfície terrestre.
Sem alimento nem fonte de energia, os dinossauros deram adeus aos planetas. Foi a deixa para que pequenos animais peludos de temperatura constante se aventurassem pelas planícies, florestas e montanhas: são os primeiros mamíferos.
Com comida abundante, os mamíferos se desenvolveram, adaptando-se a diferentes ambientes, dos trópicos aos polos. Atualmente, estão classificadas 5.558 espécies, mas, a cada dia, surgem novas descobertas.
Uma das famílias de mamíferos, os primatas (macacos, lêmures, antropoides e a raça humana), destacaram-se entre as demais: aprenderam a caçar e coletar. Às 23h39min, finalmente surgiu o Homo sapiens e outro hominídeo, o Homo neanderthalensis. O primeiro desenvolveu-se na África e o segundo, na Europa.
As duas espécies migraram para partes da Ásia. Até o Período Neolítico, nosso “primo” europeu levou a melhor. O homem de Neanderthal foi o primeiro a desenvolver a pecuária e a agricultura. Também desenvolveu ferramentas, armas e objetos de barro e argila. O “nome de batismo” significa “vale do rio novo”, uma vez que as primeiras ossadas foram encontradas no vale do rio Neander, no atual Estado da Renânia, Alemanha.
No encontro entre as duas espécies, porém, nos últimos minutos do “dia da história”, o sapiens levou a melhor. Mais forte fisicamente e com instrumentos mais elaborados, nossos ancestrais precisaram de apenas dez mil anos (entre 38 mil e 28 mil anos atrás) para destruir os adversários baixinhos.
A dez segundos do “dia 2”, o homem ocupou a América e a Oceania, desenvolveu civilizações sofisticadas, como os egípcios, núbios, sumérios, caldeus, assírios, babilônios, gregos, romanos, chineses, japoneses, indianos, etc.
Toda a história moderna e contemporânea está resumida nos dois últimos segundos do dia: as Grandes Navegações, as revoluções liberais, a independência de colônias americanas, africanas e asiáticas, o surgimento do socialismo, os grandes confrontos bélicos, as ditaduras de direita e de esquerda e muito mais.
O consumo
Por mais de 23 horas, 59 minutos e 59 segundos, a natureza ditou as normas de consumo (consequentemente, de sobrevivência) para os habitantes da Mãe Terra. No final do século XIX, as coisas começaram a mudar.
Surgiram as primeiras linhas de produção industrial, automóveis, trens e a agropecuária em escala comercial (inclusive para a exportação de alimentos). O planeta, entretanto, mesmo quando se trata de recursos renováveis, precisa “respirar” para continuar provendo as necessidades dos seus inquilinos.
Não é o que acontece efetivamente, porém. Para citar apenas um exemplo: o consumo de água (para todos os fins: cozimento de alimentos, banhos, limpeza geral, criação de animais, cultivo de plantas, geração de energia, etc.) saltou de 580 quilômetros cúbicos, em 1900, para quatro mil quilômetros cúbicos em 2000. A Organização das Nações Unidas prevê que este consumo poderá chegar a 5.200 quilômetros cúbicos em 2025 (daqui a dez anos).
Neste ritmo acelerado, o destino da Terra enquanto planeta habitado terá poucos minutos no segundo dia desta história. Especialistas já preveem guerras pelo controle dos grandes mananciais . mais de um bilhão de pessoas já convivem com restrições ao acesso da água; a maioria habita o norte e centro da África, a Ásia Central e o Oriente Médio. O Estado americano da Califórnia já precisa contar com aquedutos construídos até o Alasca: os californianos e turistas utilizam água obtida em geleiras e glaciares do polo Norte. No início do século XX, houve um conflito entre Los Angeles e fazendeiros do vale Owens, no leste do Estado, por causa do desvio de água: o gado perdeu, os habitantes urbanos ganharam; contudo, por muito pouco tempo.
O Brasil possui 12% das reservas superficiais de água doce do mundo todo (os custos para tratar a água saudável são altos e têm subprodutos poluentes para o mar e o solo), além de imensos depósitos subterrâneos, como o aquífero Guarani, que ocupa uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, e o aquífero Álter do Chão, na região norte do país, com o dobro da área.
É provável que estejamos na alça de mira de países carentes de água. Mas, mesmo que estes conflitos nunca se concretizem, a humanidade, nossos animais domésticos e de criação, a produção agrícola, a saúde de mares e do solo e as matrizes energéticas precisam ser racionalizadas. As tarefa está a cargo da espécie mais inteligente do planeta: o Homo sapiens.