A fitoterapia – tratamento de males físicos e emocionais com ervas medicinais – se desenvolveu junto com o homem. Aliás, é ainda mais antiga: diversos animais devoram plantas específicas quando sentem algum desconforto. Todas as civilizações antigas legaram tratados de medicina que envolviam o uso oral ou tópico de plantas. Muitos medicamentos alopáticos foram desenvolvidos a partir de substâncias extraídas de espécies vegetais.
A prática da fitoterapia acumulou conhecimentos empíricos durante milênios. Em 3000 a.C., os médicos da corte do imperador chinês Cho-Chin-Kei descreveram as propriedades terapêuticas da cânfora e do ginseng, vegetais utilizados até hoje, respectivamente no alívio de contusões e no combate ao estresse e cansaço. O papiro de Ebbers, datado de 1550 a.C., apresenta as indicações de centenas de plantas. No século IV a.C., o filósofo grego Teofrasto catalogou 500 espécies medicinais. Em “Corpus Hippocraticum”, Hipócrates, o Pai da Medicina, relacionou dezenas de doenças e as ervas indicadas para o tratamento de cada uma delas.
Durante muito tempo, a fitoterapia esteve vinculada com práticas religiosas e ritualísticas. Mesmo hoje em dia, este costume em culturas da Ásia, África, Oceania e América. Durante a Idade Média, o conhecimento do uso de ervas – sempre aliado a ritos e invocações – foi considerado demoníaco e muitas mulheres foram condenadas à execução na fogueira, por serem bruxas. Mas, enquanto isto acontecia na Europa, no restante do mundo os tratamentos fitoterápicos continuavam a ser praticados. Há um manual árabe de fitoterapia datado de 1334.
Com o desenvolvimento da pesquisa científica, a partir do século XVI, a fitoterapia começou a ser marginalizada, especialmente no Ocidente. O desenvolvimento da química e da biologia permitiu a identificação dos vetores das doenças e as substâncias que podem combatê-las. Surgiram vacinas e os primeiros tratamentos médicos efetivos (na Europa, até o século XVIII, os tratamentos ainda eram baseados nos “humores” produzidos pelo coração, pulmões, fígado e baço).
No entanto, a medicina chinesa e a ayurvédica indiana conservaram os conhecimentos tradicionais. No Brasil, as contribuições de negros e indígenas garantiram a criação de um vasto receituário fitoterápico, em boa parte eficaz, independente de rezas e cantos.
Como é evidente, o princípio ativo de um medicamento (sintético ou extraído de vegetais), condensado numa drágea ou em algumas gotas, funciona muito mais rapidamente do que o remédio natural, mas apresenta efeitos colaterais e pode gerar resistência orgânica em caso de abusos.
A desvalorização da fitoterapia permaneceu até o final do século XX, com a crescente produção da indústria farmacêutica. No final da década de 1970, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o Programa de Medicina Tradicional, com o objetivo de fortalecer os princípios culturais dos países membros da ONU e de aliar os costumes ancestrais aos conhecimentos médicos, para promover a saúde integral.
Foi um momento de grandes transformações na medicina: os profissionais de saúde começaram a perceber novamente o homem como um ser integral e progressivamente os tratamentos passaram a visar ao corpo e à mente, e não apenas à parte doente ou lesada.
Desde então, a pesquisa sobre as ervas medicinais sofreu forte incremento. Mais recentemente, em 2006, o Brasil criou o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, objetivando o uso seguro e racional das ervas e medicamentos produzidos a partir delas, e também visando à preservação da biodiversidade (o país abriga a maior parte de espécies vegetais do mundo, a maior parte ainda não catalogadas, sendo que muitas delas são usadas por populações indígenas como medicamento).