A Bíblia é um livro que descreve, no Antigo Testamento, a criação do mundo, a história dos grandes patriarcas e a saga dos hebreus (posteriormente judeus) na construção de sua nação. Estes textos: do livro da Gênese a Malaquias, são sagrados para o Judaísmo.
A segunda parte é composta pelos Evangelhos (narrações dos atos de Jesus, sua vida, sofrimento e morte), seguidos pelos “Atos dos Apóstolos” (que contam a origem das primeiras instituições cristãs), cartas de discípulos do Cristo (Paulo, João, Tiago, Pedro e Judas) e finaliza com o Apocalipse, narração do fim do mundo, para os fiéis, ou simplesmente uma séria advertência a igrejas cristãs, para que não se aproximassem do poder de Roma, de acordo com a análise de muitos historiadores.
O Novo Testamento é sagrado para os cristãos e reverenciado pelos muçulmanos, que consideram Jesus um profeta. A palavra Bíblia vem do grego e significa simplesmente “livro”. Os fiéis costumam apor o adjetivo “sagrada” para referir-se a este material, que compõe a obra impressa mais vendida em toda a história.
Nem todos os livros bíblicos são aceitos pelas igrejas criadas a partir da reforma luterana (as chamadas igrejas protestantes). Tobias, Judite, Macabeus (1 e 2), Sabedoria, Eclesiastes e Baruc foram retirados do Cânon, além de partes de Daniel e Ester.
Tempos bíblicos
Religiosos acreditam que os 40 livros que compõem a Bíblia foram divinamente inspirados e cobrem 1.600 anos. Os primeiros livros, que contam a criação, teriam sido escritos por Moisés a partir de 1445 a.C.; os livros cristãos, entre 45 e 90 na nossa era.
No entanto, a maioria dos historiadores afirma que os textos são bem mais recentes: a história da Bíblia teria surgido apenas depois do Cativeiro na Babilônia. Os judeus foram autorizados pelo imperador Ciro II a regressar para Jerusalém em 538 a.C. Só a partir de então os textos, provavelmente transmitidos pela tradição oral, teriam começado a ser compilados. A reconstrução da identidade nacional, abalada por 60 anos de cativeiro, provavelmente foi reforçada com o erguimento do Templo e a organização dos textos de suas origens e peripécias pela história.
Mitologia e religião
Muitos autores esforçaram-se por conciliar a história relatada pela Bíblia com os avanços da ciência. Sabe-se hoje que relatos como a criação do mundo em seis dias, a introdução do primeiro casal no jardim do Éden, a construção das primeiras cidades (por Caim, o irmão homicida), por exemplo, são apenas alegóricas: trata-se de explicações de um povo primitivo para entender o mundo.
Mesmo o decantado monoteísmo judaico, construído a partir do século XIX a.C. (com as revelações de Deus ao patriarca Abraão) encontra contestações na própria Bíblia: o termo usado nos cinco primeiros livros (que formam a Torá judaica e contam a história até a chegada dos hebreus à Palestina) é “elohim”, que significa “deuses”, e está relacionado às divindades ancestrais semíticas.
De qualquer forma, os textos do Antigo Testamento mostram claramente que Javé é uma divindade nacional, que castiga os inimigos (egípcios, filisteus, babilônios, etc.) e mesmo seu próprio povo (no relato bíblico, várias vezes Deus dirige-se a Moisés dizendo: “sois o povo que escolhi para ser vosso Deus”), quando hebreus e judeus não obedeciam a seus mandamentos.
O estabelecimento da religião judaica, na história real, é bem mais recente. Havia disputas religiosas. Nas crônicas dos reis, relata-se que “muitos reis não andaram com o Senhor”, o que significa que adoraram outros deuses. Jezebel, princesa fenícia que se casou com o rei Acab, assalariou 400 sacerdotes do deus Baal à custa dos cofres de Israel.
Quando os judeus retornaram a Jerusalém, a cidade estava ocupada por samaritanos, povo que adotava algumas práticas do antigo Judaísmo. Judeus e samaritanos nunca se reconciliaram.
O importante, nisto tudo, é que a tolerância prevaleça. É possível respeitar as crenças de quem acredita no relato literal da história da Bíblia, nos que creem em interpretações alegóricas e também nos que apenas veem nos textos belas lendas de um povo que tentava interpretar o que via ao seu redor.