Os anjos são uma criação tardia do Judaísmo. Inicialmente, Deus comunicava-se diretamente com suas criaturas: ele teria conversado pessoalmente com os patriarcas Noé e Abraão, por exemplo. Posteriormente, surgiu a crença de que toda palavra de Deus gera um anjo, que evoluiu para a ideia de que os anjos têm tarefas específicas: cada aspecto da existência do universo estaria sob a responsabilidade de uma categoria específica de anjos.
No Antigo Testamento, os anjos assumem diferentes formas. Surgem como homens comuns para Ló, quando comunicam que Deus irá destruir Sodoma e Gomorra e pedem que Ló e sua família – os únicos justos da região – saiam da cidade.
Na tradição judaica, há dez ordens de anjos. A crença surgiu com a influência das religiões de babilônios e persas (os judeus foram mantidos em cativeiro na Babilônia entre os séculos VIII e VI a.C.). Com o retorno a Jerusalém, a crença foi incorporada e é possível que textos mais antigos tenham sido alterados para incluir a figura dos anjos. O dualismo entre o bem e o mal (com anjos e demônios) é uma crença surgida entre os persas, que ocuparam a Mesopotâmia e permitiram o retorno dos judeus à Palestina.
Os anjos na Igreja Católica
Fortemente influenciado pelo Judaísmo, o Cristianismo nascente incorporou a crença nos anjos. A Virgem Maria recebeu a visita de um anjo, que anunciou a concepção de Jesus: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendito é o fruto de vosso ventre”. Jesus recebeu o conforto de anjos pouco antes de ser preso, no Horto das Oliveiras.
São Paulo faz alusão a cinco ordens de anjos, mas prevaleceram os escritos de pais da Igreja, como São Clemente, Santo Isidoro de Sevilha e São Gregório Magno, que definiram uma hierarquia com nove ordens (ou coros), divididas em três tríades. Trata-se de uma cadeia de comunicação entre Deus e os homens.
A primeira tríade
Todos os anjos foram criados perfeitos e dotados de todo o conhecimento, apesar de não terem recebido imediatamente a “graça santificante”. No entanto, eles foram hierarquizados de acordo com suas tarefas. A primeira tríade é composta pelos anjos que estão mais próximos a Deus. Eles desempenham suas funções junto ao Criador.
Os serafins
Serafins são os anjos mais elevados. Eles emanam a essência divina no mais alto grau. Sua natureza ígnea (já foram chamados de “ardentes”) inspira os inferiores a desempenharem suas funções. No Livro de Isaías (Antigo Testamento), são mostrados cantando perpetuamente louvores a Deus louvores a Deus. O profeta afirma que eles possuem seis asas.
Na oração pela dignidade do homem, escrita no século XV, eles aparecem incandescentes pelo fogo da caridade e são modelos das mais elevadas inspirações humanas.
Querubins
São a plenitude da sabedoria e ciência. Alguns teólogos consideram que os querubins ocupam a primeira classe, já que a palavra anjo significa mensageiro, e não consta dos textos bíblicos que os serafins tenham se comunicado com os homens.
Entre os babilônios, tinham o nome de karabu e eram representados como touros alados com face humana. Mesmo com o advento do Cristianismo, há representações de querubins híbridas de homem e animal.
Satanás originalmente era Lúcifer (feito de luz), mas este querubim que se rebelou contra a autoridade divina e tentou usurpar o poder de Deus. Foi precipitado no Inferno, onde até hoje se ocupa em tentar as criaturas para levá-las à perdição eterna.
Tronos
A palavra grega que derivou o nome desta ordem significa anciãos. São identificados como os 24 anciãos que se prostram diante de Deus e lançam suas coroas aos pés da divindade. São símbolos da autoridade divina, humildade e perfeita pureza, livre de qualquer imperfeição.
A segunda tríade
São os príncipes do Paraíso. Dirigem os planos da divindade e são responsáveis pelos acontecimentos do universo.
Dominações
Regulam as atividades dos anjos da terceira tríade, distribuindo a eles suas funções e os mistérios relativos a elas (a Igreja Católica estabelece dogmas, em que os fiéis devem acreditar sem questionar, porque a inteligência humana é incapaz de penetrá-los: são os mistérios).
As dominações também presidem aos destinos das nações. São os anjos que atuam nas situações que devem ser resolvidas com urgência. Também atuam como elementos de integração entre os elementos materiais e espirituais.
Virtudes
São responsáveis pelo movimento dos astros, para que a harmonia do universo seja preservada. Seus atributos são a pureza e a fortaleza. Possuem virilidade e poder inabaláveis e procuram inspirar-se na “fonte de todas as virtudes”.
Orientam os homens em suas missões e removem obstáculos que impeçam o cumprimento da vontade divina (inclusive os anjos maus, ou demônios). As virtudes derramam as bênçãos de Deus na forma de milagres.
Potestades
São os condutores das ordens sagradas. São portadores da consciência da humanidade, registram a história de todos os homens e também da memória coletiva. Ética, religião e filosofia estão a seu encargo.
Seu poder é derivado do espelhamento das ordens de Deus, e não da tirania. Os anjos do nascimento e da morte, bem como os que protegem os animais, pertencem a este coro.
A terceira tríade
Estão mais intimamente relacionados ao plano material. Conhecem profundamente a natureza dos homens, sua índole e caráter. Isto é necessário para cumprir os desígnios de Deus, insinuando, avisando ou castigando a humanidade. Efetivamente, são os anjos que cumprem a vontade divina junto aos homens.
Principados
São enviados a governantes dos países e da igreja (a palavra bispo deriva do grego epíscopos, que significa príncipe). No Livro de Daniel, são apresentados como protetores dos povos: trazem as instruções e avisos divinos ao conhecimento dos povos.
Os principados são os orientadores de povos e nações, com todos os recursos minerais, vegetais e animais que estes reúnem. Também velam pela boa orientação de ideologias, da arte e da ciência.
Arcanjos
São mencionados no Novo Testamento e entre eles estão os anjos mais conhecidos: Miguel, que derrotou Lúcifer, Gabriel, que anunciou a Maria sua gravidez miraculosa, e Rafael, que se autodescreve como um dos sete que estão diante do Senhor no Apocalipse.
Os arcanjos são arautos das mensagens divinas para os homens. Inspiram misticamente os corações e mentes humanos, para que os homens cumpram a vontade de Deus. A cultura popular fez deles os protetores dos relacionamentos, da sabedoria e dos estudos. Também combatem as ações do Diabo.
Anjos de guarda
São os seres angelicais mais próximos da humanidade. São os anjos que mais se revelam aos homens, mostrando a pureza, fortaleza e onisciência do Criador.
Os anjos de guarda são apresentados como defensores especiais das criaturas, designados para protegê-las desde o nascimento.
De acordo com a Igreja Católica, apesar dos vários graus da hierarquia, todos são iguais perante Deus.