Também chamada de espelhismo, a miragem é um fenômeno óptico que ocorre com bastante frequência, especialmente em rodovias e paisagens desérticas, mas também é visível em alto mar, quando as águas estão muito aquecidas. Elas são causadas pelo desvio da luz refletida pelo objeto (um barco no mar, efeitos de luz nas dunas de areia, um carro no asfalto), fato denominado na física como refração.
Isto ocorre porque a água, o asfalto e a areia são bons condutores de calor, isto é, espalham as ondas quentes por vastas regiões. Nos dias frios, acontece o inverso: a temperatura da superfície é sensivelmente mais fria do que a temperatura ambiente.
A palavra tem origem francesa (“mirer”: mirar, olhar no espelho) e a ilusão surge quando, nos dias ensolarados, ocorre a formação de uma camada de ar quente junto ao solo. O ar aquecido pela energia solar torna-se mais leve e rarefeito, e sua capacidade de refração fica um pouco menor do que as camadas mais altas. A causa da rarefação é que o calor faz os gases se expandirem, deixando as moléculas que os formam mais distantes umas das outras.
O reflexo do objeto gradualmente se desvia, até atingir um ponto vertical: assim surge a miragem aos nossos olhos. A imagem se torna trêmula e, dependendo do ângulo dos raios solares, chega a ser vista invertida. Um navio no mar, por exemplo, seria avistado como se estivesse emborcado: é a reflexão interna total, que produz uma espécie de “espelho natural”.
Um pouco de física
O princípio da propagação retilínea da luz só é válido no espaço, onde o meio é transparente e homogêneo. Ao penetrar a atmosfera, os raios de luz encontram camadas de diferentes densidades, em função da altitude. Quanto maior a elevação, menor é o índice de refração do ar. Este fato explica por que os raios descrevem uma trajetória curvilínea até atingirem o solo.
Esta curva é responsável por muitos outros efeitos, e não apenas as miragens. Por exemplo, logo depois que o Sol se põe no horizonte, continuamos por alguns momentos a ver seus raios, por causa da curvatura dos raios de luz.
Miragens existem, exageros à parte
As imagens muitas vezes mostradas em filmes e desenhos, de caminhantes perdidos no deserto que repentinamente “enxergam” uma lagoa e disparam em sua direção, mergulhando no areal, são bastante exageradas, em geral para conferir um aspecto cômico à cena.
Mas, ao contrário do que se imagina, não se trata de alucinações provocadas pelo calor e a sede. É comum, nos dias muito quentes, termos a impressão de que a estrada está realmente molhada. O mesmo ocorre em corridas de Fórmula 1 ou Indy, em que a imagem da TV parece revelar trechos umedecidos nas pistas e mesmo poças d’água nos trechos mais baixos. Como se vê, o fenômeno, apesar de ilusório, pode ser filmado e fotografado.
Miragem no frio
Apesar de constantemente associadas ao deserto, as miragens também acontecem em locais muito frios. Tecnicamente, elas são chamadas miragens superiores (ou polares). Mais raras, surgem porque o ar próximo ao solo ou oceano está mais frio (e, portanto, mais condensado) do que as camadas mais altas.
Com o fenômeno, é possível avistar embarcações a 300 quilômetros de distância, cuja imagem é “trazida” pela refração da luz. A olho nu, é impossível enxergar objetos a uma distância tão grande.