Muita gente diz que a Idade Média foi a “época das trevas”. A queda do Império Romano do Ocidente, a ascensão da Igreja Católica e sua consequente fusão com crenças e mitos dos diversos povos que habitavam a Europa gerou muita superstição. As cidades praticamente desapareceram e as poucas estradas se tornaram perigosas. A vida rural isolou aldeias e os senhores tinham poder de vida e morte sobre os camponeses. Lentamente, no entanto, a curiosidade humana começou a vencer as crendices e preparou o caminho para a Era do Iluminismo.
Muitas causas favoreceram o Iluminismo. A Renascença retomou o cultivo ao belo, com o resgate da tradição greco-romana nas artes e na arquitetura; o Humanismo restaurou os conceitos de liberdade e felicidade. A lógica se desenvolveu como o pensamento de René Descartes; por fim, as ideias libertárias começaram a se desenvolver contra a tirania dos soberanos absolutistas.
Com a revolução científica do século XVII, destacou-se a obra do inglês Isaac Newton (considerado “pai” da Física tradicional, por ter desenvolvido as leis que regem o movimento dos objetos). A primeira fase do Iluminismo é marcada pela tentativa de adoção dos princípios que regem os fenômenos físicos para explicar os fatos humanos e culturais: era o mecanicismo, sistema pelo qual o universo é um grande mecanismo em que todas as peças se interpenetram. A teoria tende ao teísmo, ou seja, a crença na existência de um ser que rege todo este conjunto.
A partir da segunda metade do século XVIII – o Século das Luzes –, os filósofos gradualmente se afastaram da ideia do “grande mecanismo” para explicar a vida. Seres e coisas são diferenciados porque os primeiros são dotados de uma força vital que não é física nem química. A filosofia começa a se separar da ciência. O naturalismo também influenciou o pensamento dos iluministas.
Na França, o pensamento iluminista foi caracterizado por um forte sentimento anticlerical. Isto é explicado pela influência dos sacerdotes (o Segundo Estado) sobre os reis e a nobreza (o Primeiro Estado). Todo o restante da população constituía o Terceiro Estado e as tentativas de organização de um parlamento sempre recaía numa representação dos três estados, fato que gerava forte distorção, já que clero e nobreza representavam menos de 5% da população do país.
A França tem forte tradição católica, mas a influência protestante, especialmente dos grupos huguenotes, era bastante forte, gerando tensões políticas. Jean Jacques Rousseau, um dos colaboradores da Enciclopédia Francesa, o principal tratado filosófico iluminista, teve de se exilar na Inglaterra. O Iluminismo contribuiu significativamente para a Revolução Francesa.
Já na Alemanha não havia esta animosidade. Filósofos alemães como Von Herder, Mendelssohn e Lessing apresentam forte sensibilidade religiosa e não gera dicotomia entre crença e razão.
A Escócia era um dos países mais pobres da Europa no século XVIII. Situada no norte da ilha britânica, era uma região de difícil acesso, onde inovações tecnológicas demoravam a chegar. Mesmo assim, a contribuição dos seus filósofos fortaleceu o pensamento iluminista. David Hume, Adam Ferguson e Adam Smith desenvolveram teorias baseadas no empirismo – as coisas só existem quando experimentadas e analisadas – e no racionalismo.
Adam Smith é um dos principais teóricos do capitalismo, em contraposição ao mercantilismo, que consistia basicamente em explorar os recursos econômicos das colônias.
O Iluminismo contribuiu para a autonomia das nações europeias e americanas e foi a base para o desenvolvimento das correntes do pensamento do século XIX, como o liberalismo, o socialismo e a social-democracia.
Na América, as ideias iluministas foram importadas, mas se revestiram de um caráter mais radical. A Guerra de Independência Americana tem como base os conceitos de
liberdade, igualdade e busca da felicidade. No Brasil, movimentos como a Inconfidência Mineira também se inspiraram nas ideias revolucionárias.