Também chamada de cirurgião de redução de estômago ou cirurgia para obesidade, a cirurgia bariátrica é uma terapia cada vez mais utilizada para combater a obesidade mórbida, quando o IMC (Índice de Massa Corporal) alcança ou ultrapassa o índice 40.
O IMC, único critério admitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parâmetro para classificação das faixas de peso, é obtido pela divisão do peso pelo quadrado da altura. Assim, uma pessoa de 90 kg e 1,75 m de altura terá assim calculado o seu IMC: 90 : (1,75 x 1,75) = 90 : 3,0625 – 29, 38 kg/m2. Neste exemplo, a pessoa no limite entre o sobrepeso e a obesidade grau I (que fica entre 30 e 35).
Endocrinologistas entendem que, mesmo com a indicação da OMS, outros critérios devem ser verificados antes da indicação para a cirurgia bariátrica, já que existem outros critérios para definir a obesidade, como a circunferência abdominal (a gordura acumulada na cintura está relacionada a diversas doenças crônicas), as taxas de colesterol e triglicérides e o total de massa muscular em relação à massa gorda.
Uma pessoa com sobrepeso já corre sérios riscos de saúde, como a instalação de doenças coronarianas e vasculares, algumas delas fatais, mas existem outras formas de eliminar os quilos extras, como a adoção de exercícios físicos e alimentação balanceada. Mas não há indicação de cirurgia bariátrica neste caso.
A obesidade mórbida
Até poucas décadas atrás, ser gordo era considerado quase um defeito. As pessoas não conseguiam manter o peso ideal simplesmente porque não sabiam “manter a boca fechada”. Pessoas gordas tinham quase que pedir desculpas diariamente apenas por existir.
Hoje, sabe-se que existem muitas causas que determinam a obesidade, como fatores genéticos, problemas glandulares e gastrointestinais, alterações neurológicas e psicológicas, etc. O próprio sedentarismo e os hábitos alimentares aprendidos e praticados desde a infância não desaparecem por um ato de vontade ou em um passe de mágica: quem come rápido demais ou em excesso – inclusive em relação a apenas alguns grupos alimentares, como gorduras e açúcares precisa de acompanhamento médico e psicológico, apoio familiar e muito esforço pessoal para superar a doença, e nem sempre isto é possível.
Desde que está constatado o sobrepeso, já existe o risco do desenvolvimento do diabetes mellitus, hipercolesterolemia (aumento dos níveis do mau colesterol), complicações cardíacas e da circulação sanguínea (como AVC, infarto do miocárdio, aterosclerose, trombose venosa, etc.), problemas nas articulações (que podem inclusive impedir a livre locomoção), apneia do sono, infertilidade nas mulheres, impotência sexual nos homens, além de depressão e outros distúrbios psicossomáticos.
Outros problemas são as dificuldades em vestir-se (não apenas em colocar a roupa, mas em encontrar manequins adequados ao seu corpo), amarrar os cadarços, fazer a higiene pessoal, tomar a condução, sentar-se em uma cadeira “normal”. As limitações podem chegar a impedir as atividades profissionais e as relações amorosas. Mesmo sem o desenvolvimento de doenças graves, a obesidade provoca sensação constante de cansaço, dificuldades na respiração e pouca resistência física.
Além disto, em nossa sociedade, “bonito” e “magro” são quase sinônimos. Isto, aliado aos problemas físicos, gera graves prejuízos. A pessoa obesa pode desenvolver problemas de aceitação pessoal, baixa autoestima, ansiedade, distúrbios de humor e isolamento social.
O tratamento cirúrgico
Quando uma pessoa obesa atinge condições que impedem o retorno a um peso ideal apenas com dietas e exercícios, o endocrinologista pode sugerir uma série de intervenções cirúrgicas, incluindo as plásticas reparadoras para retirar excesso de pele e de gordura.
O médico tem três opções de cirurgias bariátricas: as malabsortivas, que consistem na redução parcial do estômago associada à criação de um desvio no intestino delgado. Desta forma, o alimento e o suco bileopancreático; assim, eles só se encontram na porção final do intestino delgado (nos últimos 50 cm a 100 cm), o que reduz drasticamente a absorção do que foi ingerido. No pós-operatório, a dieta fica restrita a alimentos líquidos e pastosos. As cirurgias malabsortivas são uma espécie de plano B: são o recurso para pacientes superobesos ou para aqueles em que outras técnicas não surtiram os efeitos desejados.
As cirurgias restritivas reduzem o volume do estômago, o que provoca a antecipação da sensação de saciedade. São técnicas de fácil realização, com riscos mínimos e a adaptação e recuperação são bastante tranquilas. O paciente não precisa eliminar os alimentos sólidos logo depois da cirurgia. A perda de peso com a adoção desta técnica pode atingir 25% no primeiro ano, mas o paciente tende a ganhar peso a partir do segundo ano.
Os principais métodos restritivos são o balão intragástrico, inserido por endoscopia. Antecipa a sensação de saciedade, mas precisa ser acompanhado por reeducação alimentar. O balão pode ser usado como técnica pré-operatória, mas muitos pacientes sentem fortes náuseas e vômitos, o que determina a sua retirada.
Na cirurgia vertical restritiva de Mason, o estômago é “grampeado”, reduzindo o espaço destinado a receber o alimento. Com o estômago preenchido, o paciente se sente saciado. O problema começa com a ingestão exagerada de líquidos, que, se forem muito calóricos (como vinhos tintos, destilados, refrigerantes e alguns sucos naturais), implicarão a manutenção do peso anterior à cirurgia.
A banda gástrica ajustável é uma prótese de silicone com um balão insuflável inserido no estômago. Com o balão cheio, o alimento é empurrado para a parte inferior do órgão, o que acelera a condução do alimento para o duodeno. A vantagem do método é que ele é realizado por laparoscopia, sem cortes no abdômen. O volume do balão pode ser reajustado de acordo com as necessidades de redução de peso.
As técnicas disabsortivas
A liberdade para ingerir alimentos é maior bem maior com estes métodos, uma vez que a redução do estômago é relativamente pequena. É feito um desvio no sistema digestório, levando o alimento diretamente para o intestino grosso (sem passar pelo intestino delgado).
Isto reduz a absorção de boa parte dos nutrientes, o que determina maior controle nutricional, já que o paciente pode não processar todos os grupos de alimentos necessários ao bom funcionamento do organismo.
Na cirurgia de Payne, o estômago fica intacto, mas praticamente sem função. Pode levar a distúrbios nutricionais muito acentuados, mas, por ser uma técnica simples, é utilizada como primeiro procedimento cirúrgico. A avaliação do paciente deve obedecer a critérios rigorosos, para evitar problemas endocrinológicos.
Na derivação bileopancreática, é feita uma pequena redução do estômago e um desvio dos alimentos diretamente para o intestino. O paciente come menos, mas se sente saciado. A perda de peso chega a 40%. Em geral, a vesícula é retirada durante a cirurgia, pois há forte tendência para o desenvolvimento de cálculos biliares durante o processo de emagrecimento.
Existem técnicas mistas, que englobam características restritivas e disabsortivas: limitam o volume dos sólidos ingeridos e constroem um desvio menor para que o alimento permaneça menos tempo no estômago. A perda de peso atinge 40% e tende a se manter nos anos seguintes.
Ainda assim, a cirurgia bariátrica continua exigindo esforços dos pacientes. É preciso adotar uma dieta saudável, comer devagar, praticar exercícios físicos, tomar bastante água durante o dia (mas não nas refeições) e estabelecer horários regulares para a ingestão de alimentos. O acompanhamento médico é necessário enquanto persistirem os efeitos colaterais da obesidade, como hipertensão arterial e diabetes.