De acordo com o Livro do Êxodo, um dos cinco livros que formam a Torá ou Pentateuco hebraico (incluído no Antigo Testamento cristão), o povo hebreu migrou para o Egito por volta do ano 1600 a.C., quando o primeiro ministro do império era um hebreu, José. Cerca de 400 anos se passaram e os hebreus tornaram-se cativos, obrigados a trabalhar para o faraó.
Foi então que surgiu Moisés, considerado o libertador dos hebreus. Após uma série de negociações com o soberano, Moisés conseguiu a liberação de seu povo e conduziu-o a Canaã, a terra prometida, numa marcha que durou 40 anos, cruzando o deserto do Sinai. Em meio a esta epopeia, Deus entregou a Moisés os dez mandamentos, insculpidos em pedra, e ordenou ao líder hebreu que os guardasse numa arca, que ficou conhecida como a arca de aliança entre Deus e seu povo.
As instruções divinas para a construção, proteção e condução da arca da aliança são ricas em detalhes. Além do decálogo, a arca guardava também o cajado de Aarão (irmão de Moisés) e um vaso do maná, alimento divino com que os hebreus se nutriram durante os anos do êxodo.
A construção
A arca da aliança tinha caixa e tampa de madeira de acácia, com 111cm de comprimento e 66cm de largura. Para seu transporte, foram colocadas quatro argolas de ouro nas laterais, onde eram traspassadas varas de acácia recobertas de ouro. Sobre a tampa (chamada propiciatório), foram colocadas as esculturas de dois anjos voltados um para o outro, cujas asas tocavam-se nas extremidades, formando arcos.
De acordo com a Bíblia, Deus se fazia presente entre os dois anjos, permanecendo entre o povo que ele escolheu. Para os judeus, a presença é apenas simbólica. A arca fazia parte do tabernáculo, construído também sob as instruções de Deus, com orientações pormenorizadas.
O transporte da arca da aliança
Apenas os levitas – descendentes de Levi, um dos filhos de Jacó e irmão do primeiro-ministro José, mencionado no início do texto – podiam conduzir a arca e entrar no tabernáculo, mas apenas o sumo-sacerdote (o primeiro foi Aarão) penetrava o santíssimo, o centro da tenda, onde a arca repousava. Mesmo assim, apenas uma vez por ano, no dia da expiação.
Qualquer homem não levita que tocasse a arca, e mesmo os sacerdotes não purificados, morria fulminado instantaneamente. O primeiro Livro de Crônicas narra um destes casos. A arca da aliança havia sido capturada pelos filisteus, inimigos de Israel, mas o rei Davi conseguiu trazê-la de volta. Quando a arca estava sendo reconduzida, os bois que puxavam a carroça tropeçaram e Uzá, um dos guerreiros judeus, escorou a relíquia, para que ela não caísse. Apesar da boa intenção, morreu imediatamente.
O episódio mostra claramente que o deus que inspirou Moisés a levar seu povo para Canaã é uma divindade nacional. Os filisteus roubaram a arca e permaneceram com ela durante 40 anos. Houve pragas e maldições, mas 40 anos seriam mais que suficientes para exterminar todos os filisteus. As determinações divinas valiam apenas para o povo hebreu (posteriormente judeu, descendente de Judá, outro filho de Jacó).
As funções da arca
A arca era tratada como a representação de Deus entre seu povo. Complexos rituais, incluindo sacrifícios de animais, eram realizados em torno dela. Mesmo as pessoas comuns, que não entravam no tabernáculo, precisavam purificar-se nos dias de festa apenas para ficar perto do santuário.
Para muitas pessoas, aproximar-se da arca era uma interdição pela vida toda: homens castrados, bastardos, descendentes de amonitas e moabitas, etc. Para outras, a interdição era temporária, como mulheres que haviam dado à luz recentemente ou estavam no período menstrual, e os homens que mantivessem relações com elas nesse período.
A arca também era um instrumento de guerra: ela era transportada à frente dos exércitos. Os hebreus acreditavam que, mesmo em pequeno número, poderiam derrotar quaisquer inimigos, porque a presença de Deus batalhava por eles.
O desaparecimento da arca
Depois da conquista da Terra Santa e da construção do primeiro templo (atribuída ao rei Salomão), a arca da aliança permaneceu em Jerusalém até a primeira conquista de Judá (609 a.C.) ou a segunda (586 a.C.), por Nabucodonosor, rei de Babilônia. Um grande incêndio consumiu toda a cidade.
Para os católicos e parte dos judeus, que aceitam os dois livros de Macabeus, a arca foi escondida numa caverna do monte Nebo (atual Jordânia), por ordem do profeta Jeremias. Os protestantes consideram estes livros apócrifos, enquanto a maior parte dos judeus não os aceita por terem sido escritos em grego, e não em hebraico.
Mesmo assim, muitos aventureiros e arqueólogos organizaram expedições para encontrar a arca da aliança, fato que rendeu muitos filmes e livros.
Diversos especialistas contestam a historicidade do Livro do Êxodo, que seria apenas uma narrativa simbólica da conquista de Canaã. Outros aceitam a migração dos hebreus, mas entendem que muitos elementos foram incluídos posteriormente, para demonstrar o poder bélico deste povo.